segunda-feira, 8 de maio de 2017

Vá devagar com o andor que o santo é de barro.

As pessoas acham que quando você é jovem, mente aberta, tem bom humor elas podem dizer o que elas querem que não te ofenderá jamais.

Eu sou ridicularizado desde quando a minha memória se recorda, desde muito pequeno. Em 2014 eu pedi demissão de um órgão público após 11 meses de trabalho por que entre outros motivos, todos os dias eu era OBRIGADO a escutar piados homofóbicas TODO SANTO DIA. Eu trabalhava num setor com mais de 20 pessoas onde TODAS tinham nível superior, a maioria com Mestrado e um até com Doutorado, o que demonstra, claro, que título não educa ninguém.
Eu nunca recebi apoio nem sequer das minhas famílias pra ser quem eu sou. Eu não fui criado pra ter uma mente emancipada, mas condicionada a fazer a vontade alheia. Justamente por isso quer na família, quer na escola, em todos os ambientes eu sempre tomei o caminho absolutamente mais difícil.

Desde os 17 anos eu já trabalhei em vários lugares, destes, quatro foram órgãos públicos, 3 Secretarias de Estado e 1 Instituto de Pesquisas. Nas secretarias com todo o meu esforço pessoal jamais fui condecorado com algum cargo que levasse ao crescimento profissional. No Instituto de Pesquisas meu orientador me ignorava o que podia, sequer me olhava nos olhos. O tratamento comigo em relação aos outros alunos era discrepante. Principalmente com as meninas era uma atenção e carinho desmedido, comigo, gritos, palavrões e toda sorte de ação que se configura como assédio moral. Fui mais uma vez negligenciado. Como ainda é hoje, isso me doía. Fazia acreditar que eu não era bom no que fazia, que não tinha competência, que não conseguiria fazer além do medíocre. Contrariando as expectativas do meu ex-orientador hoje eu sou professor e concursado, igual a ele. E os demais alunos a quem ele devotou tanta atenção? Alguns sequer chegaram a se graduar.

Eu sinto na pele todos os dias o preconceito. Não acaba e nem fica pouco. E não é algo que todo mundo percebe, a mor parte é velado. É a forma como me olham dos pés a cabeça. Quando como me dizem "Nossa, você é professor? Você não tem cara de professor." Como se precisasse ter cara e não competência para ser professor.

Outro dia um aluno me perguntou se eu não tenho medo de andar com um celular "tão caro". Respondi que eu sinto medo o tempo inteiro, e não pelo celular, se apenas me roubarem eu compro outro. Eu vivo no Brasil, o país onde mais se mata gays por crime de ódio, e onde os assassinos ficam impunes. E ainda tem gente que diz que ser homossexual é questão de escolha. Quem em sã consciência escolhe tão fardo pra si?

A maioria das pessoas simplesmente não se solidariza com o sofrimento dos gays. Ainda hoje os gays, sobretudo os que são classe média pra baixo enfrentam diversos obstáculos na vida pessoal e profissional. Isso porque, claro, homem gay rico não é gay, é rico. Numa sociedade onde ter dinheiro é ter poder, quem desrespeita gay rico? Uma coisa é ser gay em Copacabana. A outra é ser na Favela da Rocinha. Um é o homossexual, o outro veadinho. E cá entre nós, só quem nega a existência do preconceito é quem pratica o preconceito.

O pior de tudo é que dentro da própria comunidade LGBT existem opressões. O "não assumido", o "discreto", o "que não se envolve com afeminado por questão de gosto". Todos esses rótulos, toda essa rejeição gera cada vez mais distanciamento entre a comunidade e fomenta o ódio dos ignorantes.
Por estas e muitas outras razões que eu não tolero quem tenta ridicularizar minhas opiniões. Não suporto quando me interrompem quando estou falando. Ninguém faz isso com homens brancos heterossexuais que ocupam cargo de chefia. Não é porque eu sou brincalhão que você pode me dizer o que quiser. Eu não sou uma palhaçada. Eu sou uma pessoa integra, digna, honesta e mereço respeito como todo mundo.

Eu me recuso, me nego a ficar dando sorrisinho e me humilhando pra conseguir atenção e apoio. Nunca usarei heteronormatividade pra me proteger. Covardia não é comigo. Principalmente em local de trabalho, subserviente é cargo comissionado que pra se manter no posto atende exclusivamente aos interesses alheios, alienando o seu trabalho.

Podem apontar o dardo nas minhas contas, pois eu não nasci pra ser fútil, cotidiano e de companhia. Jamais deixarei de manter postura alinhada aos interesses do coletivo só pra me manter em cargo. Meu perfil profissional é totalmente probo.

Eu cheguei aos 26 anos onde cheguei foi com muito esforço, seguindo os meus valores e crenças, não por amizade com chefe ou negando minha existência.