quinta-feira, 26 de abril de 2012

O Pedrinho? Ah, o Pedrinho...

Uma semana após àquela fotografia que perpetuaria a memória que eu tenho de Pedrinho, reuni as palavras, o meu chá quente e uma caneta com tinta forte.

Pedrinho tinha 23 anos, mas não passava de um moleque debaixo daquele boné. Sua expressão era sempre muito calma que transmitia uma contínua paz, quebrava-se com um sorrisinho encantador e as vezes gargalhadas incontroláveis e contagiantes, seus lábios muito grossos descreviam isso de uma forma única. Tinha lá seus defeitos, seus demônios, suas adicções, mas quem não tem? Hoje em dia, se não somos adictos por uma coisa, por outra. Contudo, aquilo não era bem um defeito no Pedrinho, ele sempre estava bem, sendo alegre. Queria eu ter-lhe perguntado se aqueles demônios eram pra sempre, mas nunca parecia conveniente.

O Pedrinho era um bom amigo, à todos, nunca fazia mal a nenhum. Se dissessem que ele era ruim, lembraria mil razões para desmentir. Tá tudo aqui aguardado; as conversas, os desabafos, o banho de chuva, a primeira festa, o beck... mas deixa estar, o Pedrinho não tinha sido o primeiro a tentar me levar por aquele caminho, apesar de que eu confiava nele e por mim fui segurando-lhe a mão e de olhos vendados, a final, pra ele aquilo não passava de diversão. Ele ria, me disse que fiquei ''introspectivo'' e ria novamente, a besteira foi minha em deixar a moral falar mais alto numa hora daquelas. Muito inteligente, sempre sabia se expressar, ia morar na Alemanha, me dizia sempre.

Naquela quarta-feira, como sempre, estava calmo, e como fazia calor estava de bermuda, porque era confortável, explicava, e botas para proteger os pés de qualquer terreno, ia ser Geógrafo. Após aquela fotografia, eu ia lhe dizer o que pensava sobre algumas de suas características e então lhe disse: "Pedrinho, volta aqui depois!" Ele disse que voltaria, mas deve ter esquecido, afinal, não sabia que era importante. Dali então, só posso falar do quanto ele animava o ambiente, do quanto era bom ter ele por perto. Na quinta-feira, aquelas tantas da noite, me liga aquele desafortunado e sem me preparar a alma, sem me dizer pra sentar ou segurar um copo com água, me dá a notícia que mudara o destino de Pedrinho. Ficava a cogitar de todas as maneiras que aquela ligação era uma brincadeira de péssimo gosto, mas não tinha como ser. Se por um segundo pensava: "Amanhã vou abraçá-lo e todo esse susto terá passado.", no instante seguinte me punha em um fúnebre pensamento. Eu me recuso a acreditar que ele tenha ido para sempre. Ademais, me deixar neste estado permanente de desolação seria a última intenção de Pedrinho. Porque tínhamos a mesma idade mental, a mesma ânsia por se divertir, e eu nem o culpo por querer ser feliz, ainda que das maneiras menos convencionais possíveis.

Daí na sexta-feira vê-lo sabendo que era a última vez, ele ali quietinho sem sorrir... ele não era assim. O Pedrinho era sereno e calmo, insisto, mas aquela serenidade significava que ele não iria mais sorrir. Então não era mais o Pedrinho, era só uma lembrança, minha. Pedrinho tadinho, apesar de seus pecados não merecia aquilo que eu via. Tinha lá seus defeitos, mas foi engano da idade engodado pelo tal do livre-arbítrio. Foi triste perdê-lo, nenhum de nós dois merecia essa dor. Eu, calado e com razão, chorava baixinho tentando aliviar a dor. Sabia que então era só partir, dar Adeus e partir, sabendo que outrora não me quisera assim.

O Pedrinho? Ah, o Pedrinho. Vou sentir falta do Pedrinho.