segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Enough

Eu tô muito cansado de sofrer preconceito. Preconceito me desanima, me tira as forças. Não sou uma pessoa fraca, que se entrega. Luto, travo batalhas diárias contra o preconceito das outras pessoas. Todo dia é uma pessoa diferente que me agride com sua ignorância. E têm dias que são várias pessoas ao mesmo tempo. Só hoje eu escutei de 3 ou 4 pessoas. Escutei uma professora dizendo: "sou evangélica, mas eu te aceito.". OK. O que faz desse "evangélica" alguém tão mais humano que eu? E esse "mas"? É um perdão, piedade? Como se essa conjunção fosse um salvo-conduto para que eu possa existir, para que a minha suposta e imposta inferioridade não anule o que de fato sou. E esse "aceito você"? Eu não preciso que você me aceite, eu não preciso da sua permissão pra existir.

Como se não bastasse, outra pessoa disse que respeita a minha "opção". E tem outra opção que não seja essa me respeitar? Parece que o respeito virou moeda de troca, você se submete as regras sociais e não é agredido. Esse é o velho e o de sempre preconceito velado. A pessoa não te agride, mas isso não acompanha empatia, respeito de verdade pelo outro. A minha existência ficou resumida na minha sexualidade, personificou-se na minha sexualidade.

Por fim, o que significa essa "opção"? Você heterossexual que me lê agora, consegue optar por ser homossexual? Quando foi que você decidiu ser heterossexual, aliás? Sexualidade não é opção, é orientação. Quem em sã consciência escolhe sofrer pro resto da vida preconceito? Quem escolhe ser visto como um bandido, alguém doente, um pecador? Quem escolhe ser rejeitado pela família, passar o resto da vida tentando provar que é normal?

Eu estou farto. Sinto o peso do mundo inteiro contra mim, dessa sociedade hipócrita, desumana, onde é aceitável o marido trair a esposa, mas filho gay nem pensar. Eu não sou inferior, eu não preciso da permissão de ninguém, e eu não optei por sofrer todos os dias com toda essa carga de ódio e ignorância.

That's enough! Hoje eu estou exaurido, paralisado, dividido por um espaço e não alcanço mesmo os meus limites.

Se alguém percebe o meu sofrimento? Se alguém se compadece? Se alguém me defende? Se a minha família me deu suporte quando eu mais precisei? Não. It's just me against the world.

"E afinal o que quero é fé, é calma,
E não ter estas sensações confusas.
Deus que acabe com isto! Abra as eclusas —
E basta de comédias na minh'alma!"