Sentado na varanda, mais uma vez é madrugada. Está frio, fora do comum, talvez seja eu. Dormi cedo esta noite e acabei com insônia. Achei que deveria fazer um chá para aquecer e acompanhar as reflexões, mas talvez o meu metabolismo nem se importe.
Eu gosto desse cenário, e não trocaria este momento a só por grafismos musculares e uma conversa fútil sobre qualquer coisa, isso aqui é um momento para apreciar. O silêncio grita a verdade e você sabe que não há uma terceira opção como sair por aquela porta e fugir da realidade. É ficar, fazer as vontades alheias ou me apartar do mal que isso me faz.
A Hanna tem razão quando diz que eu não posso vencer essa. Ela diz que das duas uma: eu forço o desapego ou levo a situação até o limite as duras penas. Ela sabe que as minhas crises de meia-idade aos 21 são muito mais porque eu sempre sou lembrado pelos defeitos, não pelo que de fato sou. Até porque, para qualquer um é muito mais conveniente lembrar-se dos outros cheios de problemas, imperfeições, pelo menos assim não precisamos amá-los pela sua simples existência.
Percebo enfim, o que de fato nunca deixou de me rodear, que não importa o quão transparente eu seja, eu sempre vou ser estigmatizado. As pessoas nunca vão me conhecer como realmente sou, mas como pareço ser. Não faço mais questão de ter, ou de internalizar o que for material. Quero a cumplicidade, o puro. Não quero ninguém me dizendo sobre a filosofia ou as ciências. Odeio conclusões. E que maçada me quererem todo pré-moldado, formatado, padronizado, cotidiano, tributável, para por fim servir de companhia. E contudo, eu não sinto a solidão.
Não vou mais olhar duas vezes se fechei a porta de casa, me certificar que não fui duro demais com as palavras, não vou mais me questionar se isso aqui é realmente vida. É bom treinar a própria segurança. O porquê da vida é simplesmente acompanhá-la. Aliás, eu não tenho roteiro, a vida contracena comigo porque é boa atriz, mas é tudo improviso.
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