domingo, 19 de fevereiro de 2012

As 4h, carta a uma amiga do passado.

Saudações, espero que ao ler esta carta estejas em pleno gozo de saúde e felicidade.

Pois bem, resolvi escrever esta carta porque perdi aquele número que você disse que era o 'novo', foi acidentalmente na última vez que senti raiva de você, e nem me lembro quando foi isso e muito menos o porque do sentimento. Não sei porque lei de transtorno cerebral, estes últimos dias fui quem me pus a pensar em como nos conhecemos, porque ficamos amigos e porque não temos mais contato. A minha mãe sempre achou que nós íamos acabar casando, porque éramos perfeitos juntos; a sincronia, a preocupação, o mesmo gênio impetuoso, enfim, a tal da recíproca verdadeira.

Olha, não quero ser incômodo, sei que já faz um longo tempo que não nos falamos e que talvez a ingratidão desse tempo tenha sido engodar um ressentimento, mas não vejo problema em mandar esta carta, até porque, se você está lendo é porque ela chegou no endereço certo, mesmo que eu ainda esteja na expectativa de que você não leia até o final; leve indignadamente até ao fogo e pense na indiferença que deve sentir. Mas são quatro da manhã, a cidade está em carnaval e o tempo é frio, não consigo dormir, e se pendurou uma ideia fixa na minha mente e foi ela que se pôs a balançar, dizendo-me que eu deveria mesmo te escrever.

Em todo caso, eu tentei ligar várias vezes para os números antigos que eu tinha e não consigo mais contato com você e também não recebi mais noticias suas. Eu não posso me justificar pelos acontecimentos, e nem posso me desculpar o suficiente pelo nosso histórico. E como não quero me alongar (porque o discurso bom é o que vai direto ao ponto), saiba que eu nunca te esqueci e nem nunca tentei fazer isso, você sempre vai comigo nos meus pensamentos. Se os nossos momentos bons, as ligações, as caminhadas, as conversas breves, as mensagens, os sorrisos, as expectativas boas... ainda forem dignos de nota, por favor, lembre-se que eu tenho um coração inconstante e um olhar errante, por isso não pude te assegurar nossa eternidade e nem que a nossa felicidade seria perpétua.

Mas estou convicto de que naquela época você me amou, como eu te amei. Lembra daquela noite em que nós caminhamos juntos um longo percurso até a casa da sua melhor amiga? Nós fomos rindo, você dizendo que eu "não existo" e chegando lá, após você me servir tudo o que ela tinha na geladeira, nós fomos nos sentar juntos e você não conseguia parar de me acariciar e sei que se eu não tivesse impedido aquele beijo, a nossa amizade podia tomar muitos outros rumos, dos quais, contra nossa vontade, fatalmente hoje somos reféns. A vida não era mais fácil na nossa adolescência? Naquele tempo, pelo menos nós tínhamos uma inconsciente irresponsabilidade ao lidar com sentimentos, próprio da idade. Bem, culpe a minha melhor amiga do colegial, foi ela quem nos apresentou lá em 2006.

Eu gostaria de poder continuar escrevendo, até porque eu não estou infeliz, estou saudoso e isso é bom. Talvez eu devesse citar alguns trechos de Neruda, mas eu posso acabar ficando com a imagem de bêbado chato. Possivelmente este seja um borrão, vou reescrever sem tanta intimidade, porque eu não sei como nós ficamos. Enfim, mande lembranças a sua mãe e as minhas sinceras estimas a sua família.

Com carinho,

Breno Amorim.