terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Salinas - PA


I don't know what's right and what's real anymore
And I don't know how I'm meant to feel anymore
When do you think it will all become clear
Cause I'm being taken over by the fear


Lily Allen - The Fear

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O rock bar

Falta meio copo da oitava bebida e estou falando sobre a minha geração.

Cinco ambientes diferentes, cada um tocando uma década do rock, com ótimas mixagens. As pessoas chegando, o espaço se aglomerando de rostos lisos todos dotados de ótimos cremes faciais, fixadores de maquiagem, tatuagens e penteados exóticos.

Todos amigáveis, risos fartos estampados, sem nenhuma antipatia, realmente atenciosos e dispostos a curtir a noite. Eu passei, ele olhou, ela olhou, elas, todos eles. Na pista de dança tudo sensual, os movimentos sincronizados, pareciam coreografados.

Tocou Elvis, Beatles, Turtles, Led Zeppelin, Janis Joplin. Meu melhor amigo tomando suco de Abacaxi, me dizendo ter tido uma epifania. Enquanto eu olhava o vocalista da banda, que era o cara mais bonito e charmoso da casa. Me olhou, sorriu, me pegou as mãos e depois veio me abraçar, só faltou tocar AC/DC.

Me lembrei da última vez que fui parar no hospital com quase coma alcoólico, o médico me perguntava: 
- "você bebe?"
- "aceito uma dose para lhe acompanhar."

O cara da banda rio da minha astúcia. O Marlisson se divertia, trocando olhares com os outros bailarinos de plantão. Faltou luz e todo mundo calmamente caminhando até a porta rindo da situação. Já era quatro da manhã, eu sem vontade de ir embora daquele paraíso artificial. Ainda sinto o cheiro dessa noite.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O último expresso

A minha melhor amiga do colegial e eu sempre tivemos o mesmo lema no fim de relacionamentos: "Uma facilidade para desistir". Tudo mentira. Insistíamos muito nas pessoas erradas até levar um pé na bunda e ter que ir se consolar um com o outro, no dia seguinte fingíamos está bem e recuperados. E com o passar do tempo era o que inevitavelmente acontecia, porque adolescentes não morrem de amores; vivem. Até porque viver é bem diferente de morrer, sabe bem disso o Brás Cubas.

O que é estranho hoje é eu não ter o mesmo desespero da adolescência. Talvez as prioridades sejam outras, ou as ansiedades. Subitamente, acho que o remédio para todos os meus desgostos, sou eu mesmo. Tornar-me mais frio, cauteloso e dispensável é necessariamente o melhor caminho. Não sei mais se me esforço para escrever algo para não te dizer nada. Nada do que já fora dito antes. Este último fim está sendo apenas O.K. Parece até o clipe de "New Soul" da Yeal Naim, verdadeiramente "a happy end". Gastei tanta força, tanta energia, tantas palavras por gastar, que agora as pobres tentam se salvar. Estranho ainda foi esperar que você ligasse no dia seguinte se remediando, erguendo bandeira branca.

Senti-me como se estivesse novamente na Estação da Luz, mas dessa vez como criança e segurando apenas a mão de um alguém, mais ou menos a meia-noite. O cenário todo vazio, sem aquelas pessoas passando apressadas, esbarrando, indiferentes umas as outras. O metrô chegou, eu me distraí, ele entrou se foi e eu fiquei ali, sozinho. Imediatamente o desespero, vontade de correr, de gritar. Foi como se não pudesse mais voltar. Então seria ficar ali esperando pelo amanhecer, ou saí pelos portões e tentar a sorte. Eu sei que você não é a minha mãe, e eu não estava projetando isso. No máximo, o sentimento de confiança, de segurança.

Hoje sinto como se fosse lá pelas 02h:00 e o conformismo tivesse me agarrado. Fiel ao que eu sinto, penso que tudo é assim mesmo. A vida sabe. Fecha as 00h:00 e abre as 04h:00. Este tempo de recesso é necessário para que todos descansem, tudo se estabilize, para abrir-se normalmente pela manhã e que eu possa segurar outra mão, quando for o caso. Eu gostaria de dizer que não há dúvidas, ou dívidas emocionais. Porque quando anoitece, você leva o dia embora, mas eu já sou crescidinho.

Depois disso, nós voltamos como se alguma coisa fosse mudar, como se três semanas separados fossem o suficiente para distanciar os nossos problemas, zerar as mágoas e as cobranças. Eu não deveria está tão mais empolgado com o meu mais novo amigo gay, que há meses era um hétero qualquer. Não deveria ser mais interessante ir ao Karaokê com ele, do que esperar em casa por suas ligações. Mas como dizem no liberalismo econômico francês: "laissez faire, laissez aller, laissez passer!"

Na primeira semana sim, eu esperava que você tentasse me convencer a ficar, porque eu estava disposto a ficar, na verdade eu já estava convencido. Eu achava que era saudade, então valeria correr atrás. Saudade seria bom poder nutrir. Queria poder engarrafar este sentimento todo frágil e delicado, porém agradável que surgia todas as manhãs que acordávamos juntos. Mas é apenas uma lembrança, uma memória, de que um dia nós fomos bons, juntos. Agora eu te dou razão, de que ter sentimentos por você é problema meu. Talvez eu não te faça bem, e você não seja a pessoa certa para mim. E sendo assim, a minha requintada ambiguidade se retira. Esta noite eu vou descansar a minha química. Pode ir embora.

Balloon

Balões. É dever soltá-los, acompanhar a subida até que sumam. Nunca houveram dúvidas quanto a isso.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Um comentário sobre Silas Malafaia

Gostaria aqui de tecer alguns comentários sobre a postura e sobre o próprio Pastor Silas Malafaia. 

Interessante é que o Pastor Silas Malafaia é Teólogo e Psicólogo, mas usa de um terrorismo incrível com seus fiéis. Ele pinta um mundo tão fantasioso, cheio de demônios dirigindo a vida das pessoas, como se todas estivessem possuídas e por fim, sejam libertadas por meio de um "homem terreno" que ele é. Mas é um quadro tão horrendo que nem Goya pintou um inferno tão terrível como o Pastor Silas faz com a realidade de seus seguidores. No final das contas, ele acaba chamando atenção tanto para si, que o "deus" a quem ele faz menção acaba ficando em segundo plano.

É no mínimo contraditório um Psicólogo - utilizando qualquer que seja o método dentro desta área, tentar curar o homossexualismo, como se fosse uma doença. E é também contraditório o fato dele dizer que "é um comportamento", como se fosse um problema e tratável. Durante o programa De Frente com Gabi exibido no SBT no dia 03/02 ele disse que: "Ninguém nasce gay. Não existe ordem cromossômica homossexual. Não existe gene homossexual. Existe ordem cromossômica de macho e de fêmea." Sendo assim, não dá pra discutir com um teólogo metido a geneticista, pra mim isso é charlatanismo. Mas eu gostaria de destacar que o discurso dele é pautado em Ideologia, em crença, em política, assim como Hitler que gritava nos palanques algo mais ou menos como: "Nós somos raça pura, eles não são, e é por isso que nós vamos matar eles todos." Ou seja, usando o mesmo discurso para incitar a violência, a soberania e superioridade de um grupo ou categoria social sobre o outro. Não se enganem, a melhor forma de manipular as massas é estudar e criar estratégias para alienar mentes mais fracas. 

O mais bizarro de tudo é ele se opor a PLC 122, que é um projeto de lei que garante direito constitucional de liberdade de expressão, orientação sexual, punição contra atos homofóbicos e direito de crença. Crença! Ou seja, liberdade essa que o próprio Silas Malafaia desfruta todas as vezes que entra em cadeia nacional com seu tele-evangelizamento. É impossível aceitar que uma pessoa que prega o amor, incite o ódio contra pessoas normais e tributáveis, que são os homossexuais. Vale notar, também, que o Silas é evangélico protestante - que diferente da Igreja Católica, é a favor do juro, algo mais ou menos do tipo: "cobrar juro pode, quem cobra o juro vai pro céu". Talvez por isso, ele seja dono de uma fortuna avaliada em aproximadamente R$300 milhões, segundo a Forbes Magazine. Não é irônico e contraditório os fiéis ganharem em média apenas um salário mínimo? 

Brilhante como Goya ele não é, mas com certeza é uma mente atormentada e refém de seus próprios devaneios.

Ps: a gravura é do pintor espanhol Francisco Goya e é da série Os Caprichos.