sábado, 29 de dezembro de 2012

Vou levar de 2012.

Como todo ano, faço minha própria limpeza na vida. Cada um ano que se passa me enriquece e me empobrece. Este ano poucas coisas de ruim aconteceram, não posso me reclamar. Das bagagens que pretendo pôr na esteira e esperar do outro lado, vou esperar que as pessoas de bom coração me levem. Este ano foi tão corrido, tão visionário, tão cheio de promessas e as mais inusitadas foram as que ficaram. Aquelas que eu nem mesmo sabia que existiam, agora perduram. Me sinto pleno, me sinto deveras satisfeito.

Já nem ligava, nem o esperava, o imprescindível, o bom. Imaginava a morte ao pé da cama, pedindo-lhe apenas mais um minuto. Um raio de sol me rachando a consciência e a vontade de ter feito tudo diferente. Precisava ouvir, precisava me acreditar, um empurrão para fora do mundo que eu mesmo criei. O mundo onde as coisas não funcionavam, se resignavam, eram burocráticas e soavam tão patéticas quanto realmente eram. Não tinha forças, não queria, não ia sair dali, daquele mundinho sujo, daquelas pessoas indesejáveis com seus ambientes forjados. 

Lá pelo meio deste derradeiro ano, vi uma orelha, olhos muito sérios de japa, um cultura lá do sul, um todo desprendido do mundo convencional, transformador da própria realidade, salvador da própria pátria. Fazia um tipo sério, centrado, bem resolvido, mas todo emocional, sentimental e verdadeiro com o que acreditava. Peguei, me apaguei, me agarrei, me deixei enlaçar por aquele revolucionário das grandes causas. Ele me dizia cousas, me obrigava a desconstruir o que eu tinha como realidade. Gemia no meu colo, me chamava de amor e tudo era brindado com açúcar e afeto, histeria e ironia. 

Me fez perceber o quão grato eu sou a vida, o quanto desejo mais viver, viver bem. Me intrigou, me irritou e fez convencer a ser um eterno aprendiz, a ser convicto. Me deu as mãos, se cegou, me acreditou e me disse "vai para frente". Eu já havia decidido levar esta ébria boca, dentes, lábios, levo essa saliva que desce por um fio molhado de tesão. Guardei tudo. Guardei por dentro que é inviolável. Faço isso tão somente porque me fez conhecer a divina delícia, suave tortura deste amor. Não escondo mais, me permito estar em paz, de 2012 vou levar Leonardo.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Penso, logo, talvez eu exista.

Sete bilhões de pessoas. A probabilidade de eu ser eu é sete bilhões para uma. Se esse raciocínio é lógico - e é, pela teoria da probabilidade, a ocorrência do fenômeno tende a diminuir ou distanciar-se do marco inicial. Então, se eu estou indo no caminho certo, se eu aprendi com alguns erros, talvez dessa vez eu cometa menos as mesmas atitudes e distancie os fenômenos ruins, talvez agora seja melhor. Porque eu não tenho mais medo. Não como da última vez ou da vez anterior.

However, se eu falo, imediatamente você argumenta e eu refuto sua argumentação, você já diminui mais ainda sua oportunidade de provar a existência, a confirmação do ser por si mesmo. Daí então eu já te tiro do jogo, te tiro de cena. Depois da vírgula, você já aumentou os zeros, já quase não existe para a realidade, ou simplesmente para mim.

Já fui muito pior. Bem mais astuto, mas usava isso para interesse próprio e então, eliminava a existência de um ou de outra, eliminava a existência. Tirava a parte boa da maçã e o resto virava refugo. Sentado no chão, admirando os quadros que coleciono, separo tudo o que merece voltar para o meu baú; todos os neurônios que precisam de um sopro para me trazer de volta a realidade. Volta Descartes para o baú, o que ele sabia era apenas hipérbole. Não posso usar o pensamento dele, expressaria apenas a minha realidade.

Falta apenas mais uma pá de terra para eu enterrar isso tudo.

E o tal do mundo não se acabou.


Anunciaram e garantiram
que o mundo ia se acabar
Por causa disso a minha gente
lá de casa começou a rezar
E até disseram que o sol ia nascer
antes da madrugada
Por causa disso nessa noite lá
no morro não se fez batucada
Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar
Beijei na boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei pelado na televisão
E o tal do mundo não se acabou
Chamei um cara com quem não me dava
E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele mais de quinhentão / um milhão
Agora eu soube que esse cara anda
Dizendo coisa que não se passou
Vai ter barulho vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou

Assis Valente - E o Mundo Não se Acabou

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

J'ai Demandé a La Lune

"J'ai pas grand chose à te dire 
Pas grand chose pour te faire rire 
Car j'imagine toujours le pire 
Et le meilleur me fait souffrir"


Indochine

J'ai Demandé a La Lune

 

 

 

 

 * Trem de Ouro Preto a  Mariana em Minas Gerais.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Eu, ele, o nosso.

Eu nunca teria ido até Mogi das Cruzes naquela noite fria de São Paulo, se não fosse para ouvir a verdade.

Nem sabia que teria de ir a São Paulo, antes de chegar a Belo Horizonte. Quando desembarquei e tive a notícia de que passaria a noite na maior cidade do país, imaginei o que de importante poderia fazer naquela noite única. Liguei para um amigo logo no aeroporto, o Luis - excelente companhia, mas apesar de ter aceitado sair para a noite, não conseguiu tomar um metrô até a Paulista, só conseguiria ir até o Brás, o que não adiantava de nada porque ninguém se arriscaria a andar sozinho.

Permaneci no hotel. Jantei com a Alia, deixa ela no 1035 e voltei para o 1034 do outro lado do corredor. Ainda não tinha me convencido a passar aquela noite no quarto. Lembrei que em Mogi das Cruzes tinha uma conversa importantíssima sobre o meu presente momento, mas só poderia ser pessoalmente. Queria ouvir o outro lado, as respostas certas sobre o meu próprio destino. Fiz uma ligação, aceitei o convite. Contente com a oportunidade única de entender o que me ocorria, comigo, com ele, com o nosso.

Celular, dinheiro e chave fui eu quem me lancei obstinado àquela noite. Tomei um táxi até a rodoviária, o motorista foi me dizendo que a cidade estava muito perigosa, que já mataram não sei quantos em apenas um mês, que o preço da gasolina está pela hora da morte... Eu só sei que foram os 15 minutos mais torturantes da minha vida - até porque não era minha primeira vez em São Paulo; Paulista, Oscar Freire e Augusta eram velhas conhecidas. Desci na rodoviária, agradeci ao motorista e a Deus por ter chegado.

Garoava naquela noite, minha echarpe úmida já não aquecia mais. Peguei o último ônibus, a viagem foi breve, mas entediante porque estava ansioso por respostas. Desci do ônibus, ele lá em pé me esperava. Era exatamente como eu imaginava. Fomos à sua casa. Entrei. Disse-me para não reparar a bagunça, tinha o pego de surpresa. Tirou o casaco, seu corpo muito magro, pele branca, muito delicado e afeminado, mas era bem resolvido, mostrava isso com atitude. Perguntou se queria algo para beber, eu queria café, precisava estar desperto para ouvir tudo.

Falamos sobre relacionamentos, eu sobre o meu, ele sobre seu último. Queria detalhes, estava obcecado. Ele me disse que seu último relacionamento terminou como começou, sem pé e nem cabeça. Não tinha conexão, era ilusão, recebia críticas e não tinha vontade de ser mais do que aquilo, gostava da profissão, era independente apesar de não ter muita instrução. Falou-me o quanto desagradável tinha sido alguns momentos, que tentou muito e perdeu a vontade, o ânimo. Foi ele quem se despediu do nosso, sem muita cerimônia, com um pequeno gosto de vingança. Seguiu em frente, tocou a vida sem se arrepender, sem olhar para trás.

A esta altura eu já estava chorando há 27 minutos ininterruptamente. Não tinha me preparado, era muita  realidade, muita sinceridade de alguém com tão pouco na vida que tinha aguentado tanto. Talvez o que tenha me assustado mais foi o fato de termos a mesma idade e tanta diferença em atitude. Não me enxugou as lágrimas, me permitiu o desabafo. Me deu água, disse para crescer mais, não permitir ser menos do que eu sou, que merecia cada vez mais. E apesar de ter minhas próprias opiniões, nunca tinha presenciado tanta frieza, era verdadeiramente bem resolvido, porque o senso comum ensina melhor do que qualquer conhecimento sistematizado. Voltei ao normal, falamos mais e rimos muito de outras coincidências. O cabelo bem cortado, mas parte no rosto, rosto muito fino, lábios muito finos, queria exibir sua excentricidade por ser gay e tudo soava muito amigável.

Fiquei muito grato, pelo simples fato de ter aberto sua vida, seu passado para que eu pudesse entender a mim e ao outro, ao que foi seu e agora meu. Já era 4 da manhã, bocejou e ainda não dissesse que estava cansado, que queria dormir, foi minha deixa para ir. Abracei-lhe forte, disse que contasse comigo, que mesmo do outro lado do país seríamos amigos.

Voltei ao Matiz em Guarulhos, tomei banho. Não me sentia cansado, estava deveras satisfeito. Porque depois de tudo que ouvi, não me sentia inútil, um ser banal, sentia-me corajoso, vontade de ser uma pessoa melhor, de também ser resiliente da mesma forma, ou mais ainda. Parecia então, que estava no caminho certo para continuar amadurecendo, ser mais paciente, menos controverso, melhor do que esta situação toda. A Alia me ligou, eram 7 horas, estava no quarto da frente dizendo para ir tomar café e voltar ao aeroporto.

Um detalhe intrigante sobre aquela noite foi que na porta do ônibus, ele perguntou meu signo. Eu respondi que era peixes, mas que não acreditava em signos. Ele fez uma cara assustada, em seguida murmurou alguns signos e sorriu. Eu precisei entrar no ônibus, mesmo sem entender nada. Acenei me despedindo pela janela e segui. Na próxima vez que eu for a São Paulo lhe pergunto o que isso significa, se é que significa.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Quem sabe de mim sou eu.

Mamãe ligou dizendo que meu cabelo estava muito comprido. Que achava feio. Disse-lhe que não chorasse, o cabelo é meu e vai ficar assim.

Neste exato momento eu estou muito casado, das opiniões, dos rostos recriminando. Mas não cansado o suficiente para dizer que tenho corações fora do peito. Cansei mesmo e agora não mais aquela paura, de ser encarcerado pra ficar seguro. Porque quem não dança, não fala, não tem coragem. Então eu estou saindo, e vai ser assim. Preciso terminar tudo aqui e ir sentir o sol de Recife, a noite aquele saxobeat em Olinda.

Me dá aquela orelha de novo, um dedinho de prosa, vamos trocar mais uma parole. Quero ver e sentir a porta da alma. Eu quero olhar as luzes que teus olhos não me têm deixado ver, que é pra não me matar de dor. Quero calado te mostrar que todas as tardes serão suas, te constrangendo com o meu olhar fixo.

Insisto, eu preferiria mais um dedinho de prosa, o café arábica e tirar tuas roupas quase que arrancando do corpo, com a urgência que sinto. Eu quero mais. Quero te penetrar ouvindo Last Kiss e a cada suspiro, cada gemido teu sentir que essa música faz todo sentido, enquanto me arrepio, para não me arrepender de ter te chamado de amor.

Não me leve a mal, com todo defeito, te levo no peito. Aproveite cá o nosso momento para não encher o peito de quizás. Venha simples, porque eu preciso assistir Brasil e Inglaterra em 6 de fevereiro com você. Aceite, aceite sim, sem me questionar. Desista às vezes de ser tão original.

Me surpreenda com coisas boas. Sorria mesmo quando me ver, disfarce o olhar para me importar quando parecer tão intrigante. Não me faça ciúmes, me faça gozar, gozar da companhia, da oportunidade, dessa vida, de nós dois.

Estas coisas, não conte a minha mãe. Ela não sabia que eu iria crescer, ela não sabia que existia este outro parto de partir. Me faça querer, para dizer, que seja recíproco: "Te vejo amanhã.".

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Na rua dos bancos - Ouro Preto / MG

"You were sweet to care for me
And gently stroke my hair for me
Put me on a mattress made of foam
And whisper low
but I'm feeling like I'm a long way from home."
 
Paula Toller - Long Way From Home

Les Chimères

"Breno, os estudos nos levam longe. Mas é preciso responsabilidade, dedicação, respeito e humildade, pois um dia a "conta pra pagar chega". Afinal é seu futuro, e o hoje é alicerce do amanhã. Um Abraço"
R. C. C.

- E eu tão pessimista que não vi um coração que se faz presente rudemente todos os dias, há 2 anos e três meses. Gostei da singela lembrança de Paris.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Parque do Sabiá - Uberlândia / MG


Somebody That I Used To Know - Gotye


"...But you didn't have to cut me off
Make out like it never happened and that we were nothing
And I don't even need your love
But you treat me like a stranger and that feels so rough
No, you didn't have to stoop so low
Have your friends collect your records and then change your number
I guess that I don't need, that though
Now you're just somebody that I used to know
Now you're just somebody that I used to know
Now you're just somebody that I used to know..."

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Som & Fúria

- Eu só não me preparei, sabe.
- Mas você sabia que o último ato era assim, né?
- Sim, mas não me conformo. Passa a pipoca?
- Mas nem tudo é como desejamos. Toma, já enjoei.
- Tudo bem. Ainda acho que não deveria ter sido tão trivial.
- Como deveria ser então?
- Sem a opinião de ninguém, já me bastaria. Isso azedou o fim.
- Mas as pessoas gostam de interferir no destino dos outros, é até compreensível.
- É, mas a mais bela roupa, roupa de ir a festa coloquei para esperá-lo.
- Em vão. Neste momento cada cor deveria estar mais cinza.
- Como no "Cinquenta Tons de Cinza?"
- Se você desistir do sadomasoquismo, sim. Igualzinho.
- Hum. Isso tudo parece com as músicas que te passei.
- Quais?
- Coração Ateu e Olhos nos Olhos.
- Verdade. Você deveria ter nascido na época de Bethânia e Chico.
- Acho que havia bem menos histeria.
- Você não vai comer esse pedaço?
- Não. Prefiro um copo de leite.
- Na geladeira. Será que eu vou com essa roupa mesmo?
- Veste qualquer uma. Você fica bem com qualquer roupa, my deeeeeear.
- My deeeeeear! Odeio gargalhar alto, falta de educação.
- Pensei que você estava bem satisfeito com o convite da Ambiente & Sociedade e os três novos livros.
- Quase isso.
- Lembra de Macbeth?
- É claro. Olha: "A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre palhaço que por uma hora se empavona e se agita no palco, sem que depois seja ouvido; é uma história contada por idiotas cheia de fúria e muita barulheira que nada significa.". Gostou?
- Deveria estar um pouco mais convicto. Essa fala é do Macbeth?
- Sim, sim. Eu deveria voltar pro teatro.
- Eu já te disse isso antes.
- Você também vai embora?
- Não. E aliás, ninguém disse que iria embora. É melhor ficar na última fileira, observando o desfecho.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Sensação Revisitada.

Estive por horas com o lápis na mão, meu bloco de anotações aberto e ainda não tinha certeza se deveria escrever. Apesar de ouvir boas críticas em relação a minha escrita, não gosto de ter que reunir os pensamentos e estruturá-los em textos. Tenho a sensação de que as palavras saem de mim e os sentimentos vão me abandonando, é como se eu deixasse um pedaço de mim.

Gosto de observar o céu mudando de cor no entardecer. Me pergunto aonde será que passaram o dia estes belos pássaros que agora gorgeiam inquietantemente. É no mínimo interessante como alguns deles nunca abandonam seu par, quando os acham. Me pergunto se essa cantoria toda é para atrair o parceiro ou se estão apenas satisfeitos em fazer isso, porque são livres.

Nós homens, passamos a vida inteira iludidos com momentos, objetos, pessoas, representações e especialmente com o futuro. Vejo o meu irmãozinho muito gracioso cantando e dançando porque eu prometi que lhe daria um chocolate se ele fizesse isso. Lembro da minha ex-namorada rindo e dizendo que achava ter me ganho no cansaço, mal ela sabia que a suspeita era recíproca. Não consigo imaginar o amor que os meus pais dizem ter sentido um pelo outro, porque eu nunca os vi juntos. As vezes quando me sinto assim me levanto, arrumo o quarto todo porque sei que vou encontrar fotos, imagens, recordações dos sorrisos, bolos e bicicletas por onde um dia passei.

Já foram tantos bares, bocas, corpos esculturais, curvas sinuosas, algumas mentes brilhantes, cabeças artísticas em segundas doses, chances e arrependimentos que eu nem sei se vale a pena observar a liberdade destes pássaros no céu neste exato momento. Eu só sei que eu deveria mesmo parar de beber a esta hora do dia. Às vezes a gente nem sabe que as coisas estão indo pelo caminho errado e que você está suportando tanta coisa, gastando tempo com sensações revisitadas, até que você sai da rotina e percebe que não é obrigado a se pôr em um espaço entre todas as coisas evitando alcançar os próprios limites. Insisto, às vezes você nem sabe que está mal, até sair da rotina.

Existe una historia que dice que si echas de repente a una rana en un recipiente de agua hirviendo, esta salta rapidamente hacia fuera para salvarse. En cambio, si pones a la misma rana en una cacerola con agua fria o del tiempo e vas poco a poco subiendo el fuego hasta que el liquido hierve, el pequeño anfibio no reacciona porque no nota el cambio, y acaba finalment muerto y cocido. Moraleja: las condiciones, pueden llegar a ser tan insuportables que uno ni las nota, siempre y cuando el cambio sea lento.

Anoiteceu, nem tinha notado. Os pássaros pararam de gorgear e restou a personificação do eu vista em seus olhos. Eu tentei do seu jeito, mas não tenho nada para mostrar. É pau, é pedra, é o fim do caminho.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

E a homofobia, hein?

Resolvi escrever este post depois de uma dose de Aguardente de Cana e uma conversa muito sóbria (ainda que a situação pareça toda paradoxal). Foi uma conversa realmente muito objetiva com um sociólogo e arquiteto aqui em Uberlândia - MG. Foi neste exato momento que decidi escrever o que eu já tinha como uma dívida a ser paga.

Veja, a intolerância com os relacionamentos homoafetivos, os pedidos de união estável e casamento gay não passam de despreparo ético e moral, e demonstra o quanto as pessoas não acompanham as transformações socioculturais e cívicas. A maioria prefere nem opinar muito ou se abster simplesmente de um embate que é global.

O que as pessoas precisam entender é que o mundo não é estável, sem variações nas relações sociais, econômicas, políticas, culturais e religiosas. Hoje, mas do que em qualquer outra época, as relações sociais se materializam no espaço e tempo muito contrária a lógica conservadora e tradicional. Movimentos como a Parada Gay são excelentes instrumentos políticos para a categoria social, visto que há o reconhecimento da potencialidade do movimento. Quando Milk começou esse movimento em São Francisco - Califórnia (E.U.A) ele nem sequer podia ter dimensão do quanto sólido ele viria a se tornar.

Eu falo de instrumentos políticos para lembrar que, quando um casal gay resolve juntar as escovas de dente e pôr alianças, não necessariamente estão impondo o "novo" a uma sociedade que já deveria ter se acostumado com toda a ideia de ver pessoas do mesmo sexo se relacionamento, porque isso nem novo não é, desde a época dos impérios já existiam relações homoafetivas. Fato é que admira e consterna a todos, o que não deveria acontecer, já que tudo é muito simples: solicitar um documento que dê legalidade e reconhecimento de uma união que antecede as vontades e os gostos alheios.

Permitir o casamento gay significa dar direitos cívicos a cidadãos que cumprem com seus direitos e pagam impostos, ou seja, são tributáveis como qualquer outro dentro de uma sociedade gerida pela figura do Estado. Significa dar a oportunidade de querer adotar, tirar uma criança de um orfanato e dar o que o próprio Estado negou: amor, carinho, uma família e acima de tudo: educação.

E por falar de educação, segundo a lei 205 da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) diz que: "A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania [...]" logo, exercício pleno da democracia. E sob esta perspectiva, por que não permitir a construção de uma família que possibilite a uma criança não somente uma casa, mas um lar, educação? Apenas isso, uma unidade cívica.

Entendam ignorância não deve ser apenas combatida e punida, deve ser discutida. O ponto de partida não deve ser apenas criar projetos e estabelecer leis que acrescentem penalidades a quem por si só é refém da falta de instrução, educação ou que simplesmente está sob os moldes de uma sociedade mantida por padrões já subestimados. Precisamos de mais projetos socioeducativos, e não me refiro àqueles Kits Gays ridículos promovidos pelo Haddad. Este tipo de material tenta doutrinar, e não educar as crianças quanto às diferenças existentes. Ninguém precisa dizer se ser gay é bonito ou feio, é necessário combater a violência e ensinar o respeito entre as pessoas. Não é uma questão de adjetivar, é qualificar o que significa ser gay e como isso se insere no contexto social.

Insisto, educação pode suplantar a ignorância. E não entendam que educação é suficiente se houver caso de violência. Porque afinal, não é essa perspectiva positivista e militarista que estampa nossa bandeira? "Ordem e Progresso"! Então que seja realmente abrangente a todos.

Outro dia, meu irmãozinho de apenas 3 anos de idade me viu segurando uma embalagem de cor rosa de um dado produto estético e logo gritou: "Não mano, larga isso, é de menina!". Eu parei, fiquei extremamente intrigado com a astúcia do comentário. Afinal, ele nem sequer sabe escrever o próprio nome, mas já emite juízo de valor que certamente foi ensinado em casa ou na escola, porque quando crianças o nosso comportamento é assimilado e imitado em relação ao dos adultos. E ele ainda foi confirmar com a minha madrasta: "Não é mamãe que isso é de menina?", ela, toda sem graça desconversou e mandou-o ir brincar na sala, já que ela sabia que ambos estavam errados.

O que o meu irmãozinho e todas as crianças precisam saber é que eles decidem quem querem ser, quando eles estiverem com seus sentimentos amadurecidos e fazendo uso do poder de escolha. Ou simplesmente quando tiverem consciência de que existem. O que o meu irmãozinho não precisa ouvir é que gênero é distinguido por cores. Ensinar isso a ele é como pedir que observe a tampa de uma champanhe estourando bem próximo a seu rosto. Simples, é burrice, burrice consciente, não há margem para interpretação, você sabe que não é o certo a fazer. Ainda há muito a ser feito para diminuir e acabar com o preconceito contra homossexuais. Vamos começar acabando com as lâmpadas jogadas em seus rostos na Av. Paulista.

Sorte a nossa por ter nascido numa geração com sociedade puritana e corruptível. 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A Rosa

De Belo Horizonte à Brasília vinha muito alegre, esperançoso. Lembrava de todos os detalhes tão vivos e bem guardados. Não aqueles detalhes das ofensas, das brigas, dos gritos, mas dos afetos, dos olhares, dos toques leves sobre o meu corpo muito excitado. Imaginava te dizer coisas novas, prometer um futuro bom com muito carinho e atenção, deixando o que foi dito e feito para o passado. Desde a quinta-feira já me jazia em amargura. Não dava mais.

Desembarquei no Juscelino Kubitschek e no meio de toda àquela confusão - porque tinha encontrado o Dinho Ouro Preto do Capital Inicial, avistei uma loja de variedades e entre elas uma Rosa, grande, bonita e muito sedutora. Não demorou segurá-la e tinha certeza de que iria comprá-la. Comprei. Este seria um presente bem oportuno e bem mais elaborado a você. Pelo menos tinha mais representatividade que a Cachaça de Minas que você me pediu.

Já no avião, segurando-a e admirando sua delicadeza contrastada com força, pensava ser muito provável que você estivesse no portão de desembarque com o coração nas mãos pronto a me entregar, de forma pura, sem choro, sem mágoa. Nós nos beijaríamos em público e sairíamos de mãos dadas sem nem olhar para trás. A aeromoça me perguntou se a rosa era um presente, disse a ela que sim, um presente a quem era muito importante, minha vida. Ela sorriu, disse que esperava que houvesse mais homens românticos no mundo e riu de novo.

Durante as longas horas sentado, me vinha o sono e eu começava a ter lapsos de nossas memórias boas, acordava assustado temendo ter machucado a rosa. Ela ainda muito viva parecendo que concordava com o meu plano. Mas descendo do avião, você não estava lá. Até então tudo bem, porque nós não tínhamos combinado nada. Ligando para o seu telefone, você não atendia. Me equilibrando entre bagagens e sentimentos, trazia a rosa já não tão vermelha.

Ao chegar a casa e ouvir "Thank You" da Dido, mesmo sem muita conexão com aquele dado momento. Você não retornou as ligações com tanta urgência, não me ouviu e nem viu àquela rosa. Foi triste ver a rosa murchar, toda sem propósito, toda sem mais nenhum sentido.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

O outro lado da meia-noite em BH

Eu sempre digo que o primeiro que enfiar a faca merece ficar sozinho, a deriva, a própria sorte. Eu sempre digo que o desleal deve provar do próprio veneno. Eu não nunca pensei que a fuga da realidade me traria tanto pesar.

As Minas Gerais me dizem para não resignar. A psicóloga me disse para saber me perdoar pela mentira, para entregar a você toda a culpa por não ter cuidado de mim. O Dênis me disse que nós três somos culpados. Eu por ter sido fraco. Você por ter me posto de lado nas horas em que precisei de colo. Ele por não se compadecer da situação.

Daqui da varanda eu consigo enchergar a Belo Horizonte inteira, com uma sensação de vastidão e um vento frio que me corroe a alma com um grande vazio. Um quadro pequeno na parede, com o desenho de uma Araucária com muitos escravos negros ao seu redor me passa o sentimento de que tudo pode e deve se acabar. Inexplicavelmente, subitamente me vem uma vontade de gritar, uma ansiedade incontrolável como nunca tinha sentido antes. Medo, como se não pudesse sentir o chão.

As luzes da cidade muito vivas, os carros minúsculos passando lá por baixo. Os fogos estourando no céu porque o Atlético-MG venceu o jogo a duas quadras daqui, no Independência. Eu, deitado numa velha voltaire de madeira, ouvindo baladas bregas remoendo os problemas dos quais eu tinha tentado fugir. O meu coração encharcado de vinho, eu não sei porque eu não fui embora.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Acho um pouco bom.

Não me chamem de lunático, mas eu realmente preciso de um lugar que expresse paz. Aqui não há paz, plenitude, felicidade no ar. Sim sim, fino leitor, eu sei que não existe país das maravilhas nesse mundo cão em que nós vivemos, onde até as guerras civis se espalharam entre povos, grupos e indivíduos. E pra manter a paz interior não vale chamar o cara da verdinha, tem que ser de verdade, puro e pra valer.

Eu só estou dizendo que eu preciso de um pouco de silêncio, um pouco menos de estresse, apesar de concordar em viver na histeria, às vezes. Eu preciso de um lugarzinho de algodão, que transmita segurança mesmo com toda a fragilidade. Eu quero achar que os meus amigos que valem ouro não precisam ser vendidos.

Eu quero a minha cabeça na lua com o meu amor, mas com os pés no chão na minha vida pessoal e profissional. As pessoas dizem que não é possível ter tudo o que ser quer, são todas muito pessimistas a felicidade e as coisas que hão de vir com os meus esforços. Eu lhes digo sempre que eu não quero saber se o pato é macho, o que eu quero é ovo.

Quando criança (não faz tanto tempo assim) achava que precisava me instruir, estudar muitíssimo para me manter a par de tudo, para deixar legado e me estabelecer neste mundo. Mas nem tudo que se idealiza se cumpre de igual forma, as circunstâncias vão se alterando, trazendo novas ansiedades. Hoje eu acho mesmo é que a erudição está me levando a loucura.

Concordo com o meu amor quando diz que a nossa relação é muito intensa, que é até doentia. E de fato, as coisas não é como é, é como elas são. São muitas vírgulas para tantas nuances. Porém, me ocorre agora que a minha alegria é a simples existência das coisas, ainda que as pessoas me rodeiem e azedem a minha esperança neste mundo.

E quem irá nos proteger?

Quando jovens, queremos fama e riqueza, sem nos perceber que para a felicidade tudo isso é um amontoado de inutilidades. Já me cansei de ver as pessoas se odiando, se injuriando, praguejando ao vento. Eu realmente preciso de um lugar aonde "What a Wonderful World" do Louis Armstrong faça sentindo: "I see friends shaking hands, saying, "how do you do?" They're really saying, 'I love you'".

Ninguém pode ouvir se eu chorar, porque é quando eu me refugio. Enquanto isso vou dançando e ouvindo as minhas músicas favoritas, até que eu possa decidir se quero tudo isso para mim, ou se abro mão desses desconfortos. Eu simplesmente não posso me deitar pensar no cotidiano, nas pessoas, no mundo e me sentir satisfeito com o amor, quando ele não existe.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

É a noite desamparo.

Sentado na varanda, mais uma vez é madrugada. Está frio, fora do comum, talvez seja eu. Dormi cedo esta noite e acabei com insônia. Achei que deveria fazer um chá para aquecer e acompanhar as reflexões, mas talvez o meu metabolismo nem se importe.

Eu gosto desse cenário, e não trocaria este momento a só por grafismos musculares e uma conversa fútil sobre qualquer coisa, isso aqui é um momento para apreciar. O silêncio grita a verdade e você sabe que não há uma terceira opção como sair por aquela porta e fugir da realidade. É ficar, fazer as vontades alheias ou me apartar do mal que isso me faz.

A Hanna tem razão quando diz que eu não posso vencer essa. Ela diz que das duas uma: eu forço o desapego ou levo a situação até o limite as duras penas. Ela sabe que as minhas crises de meia-idade aos 21 são muito mais porque eu sempre sou lembrado pelos defeitos, não pelo que de fato sou. Até porque, para qualquer um é muito mais conveniente lembrar-se dos outros cheios de problemas, imperfeições, pelo menos assim não precisamos amá-los pela sua simples existência.

Percebo enfim, o que de fato nunca deixou de me rodear, que não importa o quão transparente eu seja, eu sempre vou ser estigmatizado. As pessoas nunca vão me conhecer como realmente sou, mas como pareço ser. Não faço mais questão de ter, ou de internalizar o que for material. Quero a cumplicidade, o puro. Não quero ninguém me dizendo sobre a filosofia ou as ciências. Odeio conclusões. E que maçada me quererem todo pré-moldado, formatado, padronizado, cotidiano, tributável, para por fim servir de companhia. E contudo, eu não sinto a solidão.

Não vou mais olhar duas vezes se fechei a porta de casa, me certificar que não fui duro demais com as palavras, não vou mais me questionar se isso aqui é realmente vida. É bom treinar a própria segurança. O porquê da vida é simplesmente acompanhá-la. Aliás, eu não tenho roteiro, a vida contracena comigo porque é boa atriz, mas é tudo improviso. 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Chamar o sapo de príncipe (O casamento)

Este fim de semana fui ao casamento de uma amiga. Foi tudo no mínimo interessante. Ela só tem 23 anos e acabou de se graduar. O esposo dela era da mesma turma da faculdade, mas eles nunca nem se olhavam. De repente, este ano começaram a criar maior afinidade, intimidade e veio a proposta. Ela, casta desde sempre, aceitou imediatamente. Pra mim esse aceite foi um bocado estranho porque eles se conheciam há muito tempo e nunca nem tinham se notado, então não podia ser amor at first sight. De qualquer forma, isso não é da minha ossada. Fato é que eles se apaixonaram perdidamente e agora estão casados.

Sábado a noite antes do início da cerimônia estávamos todos a esperar pela noiva, que sempre atrasa. O atraso rendeu horas conversando com os colegas da faculdade que ali se faziam presente, confesso que já estava bastante enfadado de ter que contar as minhas novidades e ouvir as novidades deles (meu lema é sempre estar bem e nunca ter novidades, pra evitar conversas extensas e improdutivas). Lá pelas tantas entra a noiva, parecendo uma bonequinha em um conto de fadas. Todos de pés, os professores da faculdade chorando, tirando foto e eu ainda achando tudo um infortúnio morrendo de vontade de ir embora. Mas com o começo da cerimônia, as promessas, a troca de alianças, o beijo de cinema, se espalhou uma onda de emoção que tocou a todos, uma vontade de planejar aquilo para mim, no futuro.

Lembrei que há pouco mais de um ano tinha planejado o mesmo com uma moça que conhecia desde os 15 anos, nós nos gostávamos e nem vale a pena dar detalhes porque a maioria dos posts desse blog foi sobre ela. Não preciso dizer que não deu em nada, não é? Ela foi morar em outro estado e lá se casou com outro, até aonde eu tenho notícia. E não estejas a rir-se. Pra quem não sabe, Freddie Mercury compôs a mais lembrada balada do Queen - Love of my Life, para uma mulher a quem dedicou amor, mesmo sendo gay. Hoje, novamente estou namorando. É um namoro como qualquer outro, com açúcar e afeto, ironia e histeria. Começamos há pouco tempo e temos a certeza de que vamos permanecer juntos, exceto quando brigamos e imediatamente dá vontade de dizer Adeus. Mas é normal, sempre acontece com todos os casais.

De fato, é muito difícil fazer qualquer relacionamento dar certo. O seu com o seu chefe. O seu com sua família. O seu com o cara da frente na fila do banco. É muito difícil. Porque os seres humanos por natureza são irritantes com seus orgulhos, desafetos, contendas, imaturidades, vinganças etc. Mas ninguém quer ficar sozinho. Porque quando eu chego em casa, o dia parece não ter valido a pena e nada parece estar pago. Só há um grande espaço na minha cama e não há paz se eu não escuto aquela voz. Então, quando tudo parecer que está quase perdido, que pode ser esquecido, que não é mais minha maçã, eu vou desistir de tentar fazer as coisas ficarem certas e elas que se resolvam. Eu não quero esse poder, toma ele pra você. Eu ainda sou muito jovem, só quero poder chamar o sapo de príncipe e achar que eu posso mesmo amar cegamente, loucamente. Já diria Olavo Bilac: "Como é bom poder enfim dizer o que nos enchia o coração.".

O casamento foi muito bonito, fiquei contente. O Buffet também estava impecável e eu só posso desejar os mesmo clichês de sempre, felicidade e prosperidade ao casal. Não acho pretensão querer ter sorte no jogo e no amor. Os homens deveriam mesmo ser mais próximos.

E quem quer ser certo como a chuva?

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Ora, francamente.

E quando você adora a pessoa mais preferiria que ela fosse muda?
Eu tenho absoluta certeza de que a maioria das pessoas que me conhecessem deseja isso de cara. Mal elas sabem que eu estou desejando o mesmo at about the same time. É tipo contratar uma empregada doméstica que veio do interior pra trabalhar na sua casa. Ela passa o dia inteiro falando sobre a vida dos vizinhos. Daí você preferiria que ela fosse haitiana, pelo menos não dá pra entender uma palavra sequer do crioulo ou francês mal falado, como quiser. Seja como for, gente desagradável, arrogante, metida a merda, mister know-it-all tem as pencas em todos os lugares e aparecem sempre nos momentos com menor teor de paciência. Ora, vamos, já é suficientemente chato ter que sair de casa todos os dias e ter que lidar com as pessoas da rua, os colegas da faculdade, os professores, a mulher chata da Xerox, o orientador que desorienta, o chefe, a família paterna que pede pra você ir visitar, o irmão gêmeo  que depois de adulto quer ser amigo... ao diabo, todos.

Mas ainda assim, você reconhece que essas pessoas fazem parte da sua vida e não tem promessa sem jeito que o livre dessas almas sedentas de atenção, carinho, compreensão, um pão doce e um copo d'água. Eu mesmo só espero em troca um cafuné, um cobertor de orelha fixo, nesse verão tão rígido... fingir que acredito em vocês. Só não aceito sarcasmo e ironia, até porque isso é coisa pra gente engraçada e inteligente. O emplasto mesmo seria poder ter juízo - que me falta, o que eu tenho de sobra é tesão. A gente age tanto por impulso que dá tudo certo, só que ao contrário. Às vezes injuriamos os outros, mesmo querendo bem, só para testar. Não dá mesmo pra ser politicamente correto 24 h by day, até porque se é politicamente não é correto e vice-versa. Em outras ocasiões você quer chorar de raiva, gritar, espancar a outra pessoa e até imagina a possibilidade de concretizar o desejo, já que ser réu primário só vai levar a uma noite no xadrez e responder o processo em liberdade, mas eu já disse antes que é tão difícil arranjar um advogado bom que é melhor fingir que eu faço yoga, sorrir forçadamente e ir-se acalmar em outro ambiente.

Já bebi algumas vezes até vomitar achando que era a melhor forma de me divertir e sair do sério. No outro dia, acordar morrendo de dor de cabeça e sentindo que precisava beber o rio amazonas pra repor o líquido perdido durante a idiotice me fez ver que é melhor sentar, escrever e torcer pra que os meus pais não descubram esse blog. Prefiro meu playlist com Ryan Adams, Pearl Jam e Billy Joel. Espero não me indignar na terceira faixa e ter que digitar mais um texto desconexo.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

SMS

Hey, i don't wanna bother you, i know that you're upset. I just want to you know that I understand you and I want you be free to go and come, 'cause i know too that you just need some time on your own to pass this on. To think and breathe, so you gonna realize what is going on with you. I do like you, and you know that. I care about you, so i'll be patient. These characters don't express all we are passing through, and words don't mean nothing without actions. Sometimes we get crazy and we don't know why. Maybe because we're too young and we've been already hurt before. But this is a brand knew life for you, right here, beside me.

I think you're stubborn 'cept you're always softening. I say all the time that we only known each other about some weeks, and you say: "Looks like we known each other forever", because you're my same. Twelve hours together by day it's not too comfortable, too much feelings. But I guess we started something, and I'll be waiting for you, when you're ready. Now, we started say: "I like you, i adore you..." hoping can't say "love you" or just say kidding. Walking with each other and think we'll never match at all, but we do. We do. If not ready to share the feeling, buy me a ice cream and we'll be fine.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Breaking Up, 1997.

Então, são seis semanas e eu estou com saudade. Quer que eu repita? Eu estou com saudade. Se um de nós dois estivesse fora da cidade este sentimento teria mais validade, poderia até pedir uma segunda chance.
Se não há razões reais, concretas para estarmos juntos, então que sejam irreais, insensatas. É obrigação nossa ser feliz? Não vejo necessidade em te prometer ser cotidiano e convencional, já acho muito contemporâneo te dar companhia, conforto e um bom filme.

Nós queríamos ser felizes, não conseguimos. Então este é o fim. Não o nosso fim, mas do nosso sonho, juntos. Meu ódio não é de você. É de ficar esperando o telefone tocar. E se tocasse? Nem saberia o que dizer. Mas e se eu ligasse? "Oi. É que eu estou perto da sua casa, achei que deveria ligar antes, talvez você tenha companhia." Odiava ter que perguntar se estava tudo bem. Você pedia para conversar e eu detestava ter que discursar sobre cada coisa, sobre as suas crises existenciais de todos os dias. Nada é maior em um relacionamento problemático do que os menores detalhes.

Só me faz um favor, pelos bons tempos: não some! Não me faz acreditar que eu te fiz mal, que eu te sufoquei. Nós podíamos voltar para a cama sem medo e vontade de sair correndo para longe um do outro. De manhã tomaríamos café e leríamos as notícias, logo depois eu iria embora. Amor? Não, nem de longe. Isso era sexo, mas eu amava as suas qualidades e tenho medo de ter que amar as qualidades de um outro alguém. Nós éramos bons juntos. Agora não mais. Aliás, nós dois não fazemos bem um para o outro.

Ah meu Deus, eu te pedi em namoro! Mas eu percebi, temos alguma coisa. Contudo, nem nos amarrando será como antes. Estamos acabados, não temos mais chance, a menor chance. Então, vivemos como adolescentes: "será que me ama? não me ama?" Vamos logo acabar com esta pendenga. Se não der certo, você me trai e tenta a vida com outro. Seremos modernos. Ou você acha que eu não tentei terminar? Desde a primeira transa, porque já chega de me apegar.

Para de falar, deixa as coisas acontecerem. Acho muito interessante suas ponderações, mas me poupe da sua rigidez. Me beija incontrolavelmente e diz "sim" entre um suspiro e outro. Vamos sair pelas ruas e perguntar as pessoas o que fazer para dar certo, para não enjoar. Acha que tem livre-arbítrio? Tem controle sobre si e toma decisões? Segundo Marx, isso é só comportamento, a consciência é feita de necessidades.

O que quer que tenhamos feito, não era pra ser entendido, para ser interpretado. Deixe o juiz perguntar: "Aceita este homem sem a menor compreensão do que está fazendo, até que o divórcio, abandono de lar, egoísmo ou a morte os separe?" Aceito, aceito, aceito!

Agora para de dizer que sente muito, que lamenta. Quem lamenta sou eu, por ter te conhecido, por ter que te aturar, pela sua existência. Nós não somos adultos. Isso é comportamento de adulto? Talvez se não tivesse conhecido meus amigos. Deveríamos ter feito outras coisas, mas este é o problema, falamos demais e não construímos nada. Por que você tinha que ser tão difícil? Por que não me dá um minuto? Para um cigarro, um café, para pensar! Queria poder zangar-me, mas você já é tão frágil.

Lamento por ter te magoado, ter pressionado. Logo as pessoas vão parar de perguntar e eu pensarei menos em você. Daqui há um ano pensarei em te ligar pra saber se está tudo bem e ainda não saberei aonde foi que nos perdemos.

Ao cabo, encerro oportunamente com as palavras de Jorge Amado: "Agradecerei a quem me elucidar quando juntos chegarmos ao fim a moral da história. Se moral houver, do que duvido.".

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Senescência

Os tempos vão passando e tudo vai se multiplicando. Não é mais como cair da bicicleta com apenas uma rodinha como apoio e levantar choramingando e correr para os braços do meu pai. Não é mais como apostar quem sobe primeiro na mangueira do quintal com o meu irmão gêmeo. É como sorrir no espelho do banheiro e sentir um ar pueril, porque ele só mostra o rosto totalmente esticado e sem nenhuma ruga como testemunho da experiência, verdadeiramente um moço audaz. Daí no espelho grande é ver o tamanho das minhas pernas e perceber a minha péssima postura.

Certa vez com dez anos de idade, estava prestes a dormir, mas fiquei me perguntando o que aconteceria se eu não acordasse. Provavelmente nada. Papai e mamãe e meia dúzia de vizinhos curiosos iriam ao meu enterro pra marcar presença, tomar aquele café com bolachinhas e dizer que se importavam. Talvez hoje já alguns mais sentissem saudade e ficassem nos bares dizendo que eu era "tão bonzinho, não merecia isso". Ainda teria um fiel amigo para recitar algumas palavras de alento aos demais. Bom amigo, mas eu não teria lhe deixado nem sequer um vintém para compensar-lhe a amizade.

Já se foram duas décadas e um ano. Eu não sinto que fiz algo na vida ou pela vida, na minha ou na dos outros. Eu tinha medo de que as coisas ficassem estranhas e você se fosse, como os anos sem deixar rastros, se transformasse apenas numa infinita memória e eu tivesse que dizer aos meus amigos que foi mais um caso e que está tudo bem. Eles sabem que o príncipe encantado não chega mesmo, quantos homens me amaram bem mais e melhor que você. Foi bonita aquela festa só falando em inglês com os europeus e especialmente com a Adele, Jhon e Carl. Tomando um goró, causando calos nas minhas mãos porque já era  quase de manhã e a segunda vez que as baquetas soavam Rehab e você lindamente dormia no sofá.

Ainda bem que a minha memória é nítida, porque a beleza é vã. Tomara que demore muito pra eu ficar igual a minha avó, sendo levada ao banheiro e tratada com indiferença por simplesmente ter ficado velha.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Que falta faz a psicanálise.

Ontem pela manhã acordei tentando entender um curioso sonho que tive. Um sonho estranho, como qualquer outro porque sempre são coisas absurdas e inimagináveis quando acordado. O que mais me pôs a pensar foi que eu lembrava nitidamente de tudo que havia ocorrido enquanto inerte.

Acalma-se, eu vou contar como foi o sonho, mas antes preciso dar nota a alguns fatos. Quando eu cursei psicologia da Educação e depois psicologia da Aprendizagem na graduação, li bastante sobre psicologia clínica e psicanálise e por isso imediatamente lembrei dos estudos de Interpretação dos Sonhos de Freud. Você, fino leitor, vai tentar me lembrar que os sonhos tem totalmente a ver com a realidade observável ou dado momento factual do cotidiano. Sim, disso eu sei e também que estou lidando com quase déspotas esclarecidos portadores de alto conhecimento etc. O que me admira e consterna é a forma como se manifesta os sentimentos do consciente no inconsciente.

Bem, tendo levado estes fatos a consideração, o sonho ocorreu desta forma:
Sonhei que andava de madrugada cautelosamente com muito medo do escuro por um bosque com trilhas construídas com cimentoBuscava enxergar algo entre as árvores, mas não via nada. Lá pelas tantas, me apareceu um meigo veado (um cervo, seus engraçadinhos), com olhos muito doces e calmos que surgiu do nada, tipo um desenho idiota da Disney. Porém, quando ele chegou bem próximo a mim começou a morder ferozmente a minha perna. Eu não sentia a dor, mas era apavorante. Tentei expulsá-lo de perto de mim, mas não conseguia. Acabei me irritando muito e reagi, peguei ele pelo pescoço e torci até o matar. Fazia isso com muita fúria e angústia como quem desesperadamente deseja se livrar da situação. Porque muito provavelmente eu não queria matá-lo, queria matar a agonia e a dor que aquilo me  trazia. Em seguida acordei apavorado e dando graças a Deus por ter sido só um sonho. Mas você sabe, querido leitor, que é difícil aceitar um sonho tão nítido que deve ter total relação com sentimentos reais.

Durante o dia conversei informalmente com um amigo que está prestes a se formar em medicina e que é estudioso da psicanálise - e também fascinado por ela. Ele assustado, insistiu que eu deveria buscar um profissional e ir debater sobre o sonho. Respondi a ele que não via necessidade, já que o sonho nem sequer era recorrente e acho tudo um drama só da parte dele. Mas é nesta hora que emerge uma vontadezinha de ligar para àquela psicanalista que os meus pais me forçaram a visitar quando criança e torcer para que esta múmia centenária esteja viva, clinicando e interpretando sonhos feito uma vidente. Eu mesmo não me atrevo a interpretar nada, não tenho competência para isto. Mas sei que o sonho está ligado a pessoas próximas a mim, principalmente a frustração que elas me trouxeram ultimamente e como isso projeta a minha falta de coragem em confrontar meus medos, angustias, decepções e raivas.

Sem respostas, ainda intrigado, só tenho uma certeza: por via das dúvidas esta semana vou jogar veado no jogo do bicho!

segunda-feira, 23 de julho de 2012

A little bit(ch)

Na semana passada foram quatro reencontros inesperados. Daqueles que você não marcou nada e nem convidou para um café, desagradável mesmo. Nessa vida atribulada, cheia de a fazeres encontrar quatro pessoas do passado em uma única semana é no mínimo curioso. A cidade é pequena e provinciana, verdade, e com isso meio mundo sai de casa e convergem todos nos mesmos lugares.

A primeira ligou e disse que tinha encontrado o meu número "por aí" e a saudade levou a me ligar pra saber se estava bem, eu: "bem, obrigado.". Fui educado, claro, culpa da minha mãe ter me colocado tanta frescura e filtros pra tratar os outros, podia ser um pouco mais rude e grosseiro como o meu pai. Ainda assim, pautado por educação disse que estava tudo apenas bem e que as novidades eram as mesmas de sempre.

A segunda eu tive a infelicidade de topar na rua e daí não tinha como ignorar, tive que sorrir, abraçar e conversar por uns longos três minutos. E não me faça o leitor cara feia! Não me venha com essa de 'falsidade', falsidade seria dizer que essas situações não acontecem e você tem que fazer o mesmo, sorrir e ser agradável, não sou eu quem vai destratar alguém na rua só porque não vou com a cara.

A terceira veio a mim para dizer tudo o que eu já tinha escutado antes da mesma boca, sobre os mesmos sentimentos do inconsciente e a esta não consegui ser indiferente. Expliquei com calma e carinhosamente que era muito mais proveitoso sermos apenas amigos, porque esta decisão já tinha sido tomada há alguns meses e não tinha mais o que lhe prometer senão minha devota amizade. Não fui indiferente porque com esta terceira não tive desafetos e nunca existiu entre nós dois algum clima de animosidade, nunca aumentei sequer a voz e só poderia ser agora uma boa amizade.

A quarta e não menos detestável que a segunda eu fui obrigado a encontrar na companhia de três bons amigos. Entrou no carro depois de mim e eu tive que novamente usar todas as frescuras como manda o figurino, "boa noite, como vai? bem, obrigado". Apesar de ter sido um relacionamento rápido e enfadonho, ficou no passado e da minha parte não há mágoas, ódio... a criatura é por outro lado, detestável por natureza. Passou a noite in-tei-ra sendo asquerosa e tentando me irritar com indiretas, falando alto, às vezes cochichando e gesticulando com seu melhor amigo, mas num tom que dava pra entender que era sobre mim. Pra mim não foi o mais agradável sentar na mesma mesa, mas me subiu uma indiferença tão grande que lhe deixei falando só e nem sequer lhe dei o desfrute de uma anedota, quanto mais ficar glosando como se fosse necessário.

Contudo, pensava comigo que se fosse pra abrir a boca, seria pra dizer "Escute, aproveite a noite com as outras pessoas da mesa, eu já sou passado e nem notícias suas eu tenho mais. Não me queira mal, me queira bem porque eu estou te querendo bem neste exato momento, da minha forma."

A indiferença não é tratar os outros mal, ser inconveniente e se vingar com baixarias. Mas você sabe que nada dói tanto quanto perder. Sabendo disso, a noite decorreu sem lhe dirigir uma outra palavra. O chato foi ver que passei a noite sendo observado por alguém que lá longe tive carinho e que agora me olhava como uma hiena, sorrindo e querendo ferozmente avançar no meu pescoço. Eu, com semblante calmo já tinha mudado de estratégia há muitos anos e já estava bastante satisfeito com toda a situação. Na hora de me despedir, novamente vesti o traje da elegância e ao pé do ouvido: "Vê se fica bem!".

quinta-feira, 12 de julho de 2012

As promessas da noite passada

Neste mundo assaz vasto, onde tudo é tão pioneiro, onde cada sensação marca como cicatriz... a conheci.
Uma existência superiormente interessante, um olhar penetrante que me dizia exatamente o que queria. Não bastou algumas horas de conversa, veio a certeza de que esta seria uma noite intensa. As horas passavam, os risos bobos se multiplicavam, a vontade de não se largar aumentava e quando calados não se sabia ao certo se deveríamos dizer algo ou simplesmente deixar que os olhos se comunicassem.

Sucedeu desta forma, estávamos no mesmo ambiente, dos menos prováveis de conhecer alguém que seja comum a semelhança. Os olhares disfarçados, as quinhentas idas a mesma mesa de frios como pretexto para uma tentativa de início de conversa. Não demorou e a conversa tinha que começar da forma mais descabida. O ambiente era chato, confesso, resolvemos sair de lá correndo para outro lugar onde pudéssemos nos preservar do mundo todo. Bebemos, comemos e já eram 23h:30 e então pra que ir para casa? Ficamos juntos. Os toques, olhares, o cheiro, o copo de água, o atrevimento foram decisivos para troca de adrenalina. Sabia que teria de lhe deixar pela manhã, mas porque não passar a noite tirando suspiros de cada parte de seu corpo? Aquilo já tinha ido longe demais e tudo tão erótico e preliminar... não tinha como voltar.

Não era a primeira vez que ouviam aquelas sentimentalidades, mas o orgulho aumentava acrescentando a si mesmo um êxtase que só seria avaliado pela manhã. De mãos dadas, acreditando na noite passada, trocamos números, e-mails, endereços e todas as facilidades para dar a certeza de que não teria sido one-nights-stands. Faz frio, estou frio e a delicadeza da noite que me reserve muitas outras noites. Os olhos cansados, as promessas dadas, que calmamente o escurecer me dê as respostas nos olhos de Maria.

terça-feira, 10 de julho de 2012

E você que se dane.

Acontece que já nem é mais tempo de esperar pelo passado. Que você se arrependa dos seus pecados e resolva se redimir. Você sempre disse ter certeza de que estava fazendo as coisas certas como um presidente audaz e mão forte de um ditador cubano. Eu acho que você não passa de uma criança tola repetindo erros para satisfazer as mesmas necessidades de sempre. Você foge de suas obrigações porque sabe que momentâneamente será mais prazeroso e é disso que você precisa pra voltar a rotina. Mas até as crianças irritantes se sentam e ouvem conselhos. E a sua inquietação não te permite se firmar na felicidade. Não adiantou por tanto tempo me vigiar e não ter sequer coragem para me destruir com as suas infiltráveis palavras. Porque quando você se foi, eu já não via tanta esperança assim para pedir que você ficasse.

E se tudo se perdeu, porque você não entende que este é um final feliz?

Você também desistiu muito fácil, eu achava que você gostava mais de mim. Você sabe que o amor não pede nada em troca,  aceitá-lo já é a sua recompensa, e isso é tudo que nós precisamos para seguir em frente. Você deveria ter me dado salvo-conduto quando eu pedi e ter ido crescer. Agora eu quero é anistia até esquecer do sufoco que era ter que pisar em ovos com você. Então nem queira pensar, inevitavelmente você será de outro homem ou de outra mulher. Eu serei o meu melhor amigo e direi todas as manhãs que nem eu e nem você somos o centro do universo.

Então quem somos nós para possuir definitivamente o amor?

Não é mais por você que as manhãs nascem e a minha rotina será a mesma. Me perdoe se eu for fraco o suficiente pra não fazer um escândalo no seu casamento. Estarei no bar mais próximo a cerimônia ouvindo a marcha e tentando me acalmar com um copo e três cubos de gelo. Mas no enterro dos meus sentimentos eu vou, prometo. Cercado de bons amigos me protegerei e você que se dane. Vá em frente e leve tudo. Porque amanhã tem sol!

sábado, 23 de junho de 2012

A mon exquise ambiguïté

"É impossível que você não tenha aprendido nada com seu último relacionamento.".
Já faz mais de um ano que eu escutei isso com alguns gritos de desespero muito próximos a meu rosto.
É verdade, você tinha razão, sempre teve. Sou eu quem gosto de subestimar as pessoas.

Mas sim, eu aprendi, talvez a ser hedonista. Desacostumei com o cheiro, o desespero das palavras foram embora e eu sentado vendo o telefone tocar... não tinha mais o mesmo sentido. Eu apenas percebi que não queria ouvir sobre suas experiências, sobre seu cigarro ter caído no chão e a sua mãe ter te ligado. Você não precisa dessa fúria toda, dessa ansiedade por me provar o contrário do que eu acredito. As pessoas tentam de tudo para não se sentir só, por não caminhar sozinhas trocando baralhinhos como faziam os colonizadores, trocando baralhinhos por silêncio.

Você não precisava desconfiar do nosso futuro, você sabia que cada um iria caminhar sozinho, se não em seguida, logo depois, a grosso modo todos fazem isso. Você me chama de egoísta e eu concordo com você nisso. Mesmo que me olhe como um cão prestes a atacar, eu ainda estarei sentado no chão e você nessa velha cadeira de madeira, porque eu prefiro assim; dar o último gole e distanciar o olhar.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Soberba

Achava que enfim era mais humilde. Que era mais altruísta. Achava que se me deparasse com uma velhinha tentando atravessar a rua na faixa de pedestre - daquelas que nasceram por volta de 1929 e contam lucidamente como fora a segunda guerra mundial, pararia meu trajeto ao cinema e serviria de escoteiro temporário. Achava que por fim não era mais a ovelha negra da família, tinha passado o carma para o meu primo mais velho que sempre era tido como um anjo na terra.

Na realidade? Que se dane um e o outro. Sou do tipo controlado, que pretensiosamente finge muita normalidade, a final, para os que acreditam na seleção natural (ou não), só sobrevive quem se adapta melhor ao ambiente, ou algo do tipo.

Hoje tive vontade de jogar na frente do caminhão o primeiro que me aporrinhasse. Não preciso detalhar que apenas fiz cara de indignação como última opção para aliviar o estresse, até porque é deveras complicado encontrar um advogado bom que apresente álibi significativo ou que pelo menos tente me livrar afirmando homicídio culposo (quando não se tem intenção de matar, o que não seria o caso).

Me cansei de lero-lero, dá licença mas eu vou sair do sério, eu quero mais saúde! Me cansei de escutar opiniões. (...) mas enquanto estou viva e cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz. (Salve Rita!).

Achava-me pleno, estava o oposto disso e não vi motivo para ser empático com os desavisados. Chega desse blábláblá, prosseguir divagando não dá... Saúde, só love!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

O Tempo, Tal e Qual.

Acordei sabendo que o dia seria cheio. Sabia que tinha duas ou três coisas importantes a fazer, mas lembrei que ainda tinha mais sete ou oito enfadonhas tarefas a terminar. Passaram-se 10 minutos de olhos abertos e ainda não tinha decidido levantar. Sem motivo aparante, os minutos seguintes foram tentando entender porque deixei tantas pessoas para trás, o que de bom as experiências me trouxeram e o que de ruim deixaram impregnado. Quando dei por mim, já estava procrastinando e sabia que o dia seria uma merda se não me levantasse logo, mas resolvi permanecer olhando para o teto com olhos fixos em uma mancha na tintura. Apenas percebi que a mancha foi ocasionada pelo tempo, e pelo tempo sucederam as passagens boas ou ruins durante e depois da puberdade (até porque ainda é muito cedo pra usar o termo "a vida inteira" ou termo que faça alusão a longevidade). Tal e qual foram estas passagens que me deixaram maduro. Em seguida lembrei que 'maduro' só se usa para definir frutas, porque é o Abacate que fica maduro, nós homens continuamos amadurecendo, no gerúndio.

Mas voltando ao pensamento anterior - isso porque já faziam 30 minutos que eu protelava para sair da cama, lembrei da primeira pessoa que eu beijei, depois do primeiro amor que dava como certo para a 'vida inteira'. Brevemente me veio a lembrança do amargo desejo de vingança por não ter dado certo, mas veja só a pretensão em querer encontrar o amor da vida durante a puberdade, que asneira. Queria dizer-lhe que sinto muito, queria a todos os meus enganos dizer que sinto muito, que os queria bem, que talvez um ou outro eu tenha amado ainda que não tenha dito, ainda que me faltasse segurança para dizer. Acima disso, sinto muito ter-lhes deixado para trás, sem qualquer promessa de amizade, apesar de que alguns realmente fora um alívio me livrar, mas outros poderiam ter sido amizades engraçadas daquelas que você planeja viajar para ver lugares diferentes e pessoas inimagináveis. Mas agora aos 21, tanto faz. Deveria ter comprado uma guitarra acústica quando tive chance, ela seria minha melhor amiga e eu a amaria a cada nota, a cada nova sensação visitada.

Levantei, por fim. Tomei banho sabendo que além das burocracias do dia, precisava comprar um José Cuervo para compor as lembranças ao fim do dia. E na falta de um Whisky Natu Nobilis, sou eu quem me nego a ligar para um dos arrependimentos. Sendo assim, é tarde. E quando acordar na próxima manhã, desta vez vou direto ao banho.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O Pedrinho? Ah, o Pedrinho...

Uma semana após àquela fotografia que perpetuaria a memória que eu tenho de Pedrinho, reuni as palavras, o meu chá quente e uma caneta com tinta forte.

Pedrinho tinha 23 anos, mas não passava de um moleque debaixo daquele boné. Sua expressão era sempre muito calma que transmitia uma contínua paz, quebrava-se com um sorrisinho encantador e as vezes gargalhadas incontroláveis e contagiantes, seus lábios muito grossos descreviam isso de uma forma única. Tinha lá seus defeitos, seus demônios, suas adicções, mas quem não tem? Hoje em dia, se não somos adictos por uma coisa, por outra. Contudo, aquilo não era bem um defeito no Pedrinho, ele sempre estava bem, sendo alegre. Queria eu ter-lhe perguntado se aqueles demônios eram pra sempre, mas nunca parecia conveniente.

O Pedrinho era um bom amigo, à todos, nunca fazia mal a nenhum. Se dissessem que ele era ruim, lembraria mil razões para desmentir. Tá tudo aqui aguardado; as conversas, os desabafos, o banho de chuva, a primeira festa, o beck... mas deixa estar, o Pedrinho não tinha sido o primeiro a tentar me levar por aquele caminho, apesar de que eu confiava nele e por mim fui segurando-lhe a mão e de olhos vendados, a final, pra ele aquilo não passava de diversão. Ele ria, me disse que fiquei ''introspectivo'' e ria novamente, a besteira foi minha em deixar a moral falar mais alto numa hora daquelas. Muito inteligente, sempre sabia se expressar, ia morar na Alemanha, me dizia sempre.

Naquela quarta-feira, como sempre, estava calmo, e como fazia calor estava de bermuda, porque era confortável, explicava, e botas para proteger os pés de qualquer terreno, ia ser Geógrafo. Após aquela fotografia, eu ia lhe dizer o que pensava sobre algumas de suas características e então lhe disse: "Pedrinho, volta aqui depois!" Ele disse que voltaria, mas deve ter esquecido, afinal, não sabia que era importante. Dali então, só posso falar do quanto ele animava o ambiente, do quanto era bom ter ele por perto. Na quinta-feira, aquelas tantas da noite, me liga aquele desafortunado e sem me preparar a alma, sem me dizer pra sentar ou segurar um copo com água, me dá a notícia que mudara o destino de Pedrinho. Ficava a cogitar de todas as maneiras que aquela ligação era uma brincadeira de péssimo gosto, mas não tinha como ser. Se por um segundo pensava: "Amanhã vou abraçá-lo e todo esse susto terá passado.", no instante seguinte me punha em um fúnebre pensamento. Eu me recuso a acreditar que ele tenha ido para sempre. Ademais, me deixar neste estado permanente de desolação seria a última intenção de Pedrinho. Porque tínhamos a mesma idade mental, a mesma ânsia por se divertir, e eu nem o culpo por querer ser feliz, ainda que das maneiras menos convencionais possíveis.

Daí na sexta-feira vê-lo sabendo que era a última vez, ele ali quietinho sem sorrir... ele não era assim. O Pedrinho era sereno e calmo, insisto, mas aquela serenidade significava que ele não iria mais sorrir. Então não era mais o Pedrinho, era só uma lembrança, minha. Pedrinho tadinho, apesar de seus pecados não merecia aquilo que eu via. Tinha lá seus defeitos, mas foi engano da idade engodado pelo tal do livre-arbítrio. Foi triste perdê-lo, nenhum de nós dois merecia essa dor. Eu, calado e com razão, chorava baixinho tentando aliviar a dor. Sabia que então era só partir, dar Adeus e partir, sabendo que outrora não me quisera assim.

O Pedrinho? Ah, o Pedrinho. Vou sentir falta do Pedrinho.