quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Breaking Up, 1997.

Então, são seis semanas e eu estou com saudade. Quer que eu repita? Eu estou com saudade. Se um de nós dois estivesse fora da cidade este sentimento teria mais validade, poderia até pedir uma segunda chance.
Se não há razões reais, concretas para estarmos juntos, então que sejam irreais, insensatas. É obrigação nossa ser feliz? Não vejo necessidade em te prometer ser cotidiano e convencional, já acho muito contemporâneo te dar companhia, conforto e um bom filme.

Nós queríamos ser felizes, não conseguimos. Então este é o fim. Não o nosso fim, mas do nosso sonho, juntos. Meu ódio não é de você. É de ficar esperando o telefone tocar. E se tocasse? Nem saberia o que dizer. Mas e se eu ligasse? "Oi. É que eu estou perto da sua casa, achei que deveria ligar antes, talvez você tenha companhia." Odiava ter que perguntar se estava tudo bem. Você pedia para conversar e eu detestava ter que discursar sobre cada coisa, sobre as suas crises existenciais de todos os dias. Nada é maior em um relacionamento problemático do que os menores detalhes.

Só me faz um favor, pelos bons tempos: não some! Não me faz acreditar que eu te fiz mal, que eu te sufoquei. Nós podíamos voltar para a cama sem medo e vontade de sair correndo para longe um do outro. De manhã tomaríamos café e leríamos as notícias, logo depois eu iria embora. Amor? Não, nem de longe. Isso era sexo, mas eu amava as suas qualidades e tenho medo de ter que amar as qualidades de um outro alguém. Nós éramos bons juntos. Agora não mais. Aliás, nós dois não fazemos bem um para o outro.

Ah meu Deus, eu te pedi em namoro! Mas eu percebi, temos alguma coisa. Contudo, nem nos amarrando será como antes. Estamos acabados, não temos mais chance, a menor chance. Então, vivemos como adolescentes: "será que me ama? não me ama?" Vamos logo acabar com esta pendenga. Se não der certo, você me trai e tenta a vida com outro. Seremos modernos. Ou você acha que eu não tentei terminar? Desde a primeira transa, porque já chega de me apegar.

Para de falar, deixa as coisas acontecerem. Acho muito interessante suas ponderações, mas me poupe da sua rigidez. Me beija incontrolavelmente e diz "sim" entre um suspiro e outro. Vamos sair pelas ruas e perguntar as pessoas o que fazer para dar certo, para não enjoar. Acha que tem livre-arbítrio? Tem controle sobre si e toma decisões? Segundo Marx, isso é só comportamento, a consciência é feita de necessidades.

O que quer que tenhamos feito, não era pra ser entendido, para ser interpretado. Deixe o juiz perguntar: "Aceita este homem sem a menor compreensão do que está fazendo, até que o divórcio, abandono de lar, egoísmo ou a morte os separe?" Aceito, aceito, aceito!

Agora para de dizer que sente muito, que lamenta. Quem lamenta sou eu, por ter te conhecido, por ter que te aturar, pela sua existência. Nós não somos adultos. Isso é comportamento de adulto? Talvez se não tivesse conhecido meus amigos. Deveríamos ter feito outras coisas, mas este é o problema, falamos demais e não construímos nada. Por que você tinha que ser tão difícil? Por que não me dá um minuto? Para um cigarro, um café, para pensar! Queria poder zangar-me, mas você já é tão frágil.

Lamento por ter te magoado, ter pressionado. Logo as pessoas vão parar de perguntar e eu pensarei menos em você. Daqui há um ano pensarei em te ligar pra saber se está tudo bem e ainda não saberei aonde foi que nos perdemos.

Ao cabo, encerro oportunamente com as palavras de Jorge Amado: "Agradecerei a quem me elucidar quando juntos chegarmos ao fim a moral da história. Se moral houver, do que duvido.".

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