terça-feira, 26 de março de 2013

Follow Rivers



You're my river running high
Run deep, run wild

I, I follow, I follow you
Deep sea baby
I follow you
I, I follow, I follow you
Dark doom honey
I follow you

Lykke Li - I Follow Rivers 

Clube da Luta, 1999.



"You fuck me, then snub me.
You love me, you hate me.
You show me a sensitive side, then you turn into a total asshole.
Is that a pretty accurate description of our relationship?"

Assistam Clube da Luta, pra quem curte psicologia esse filme é incrível.

Nova Olinda do Norte - AM




segunda-feira, 18 de março de 2013

A Linha

Os meus pais não são pessoas extremamente rígidas, mas tem o seu rigor e suas particularidades. O meu pai é mais desligado, metido a moderno. A minha mãe é mais flexível, muito inteligente, viva e aprendeu muito com o senso comum.

Eu reparei que permanentemente conquisto as pessoas com a delicadeza, atenção e carinho. Porque, aliás, todo mundo gosta da boa educação doméstica. Mesmo tendo sido criado em uma cidade grande e violenta, eu me mantive assim.

As pessoas ao redor da minha criação eram amáveis, simples, aconchegantes, bons ouvintes, apesar do tradicionalismo barato e o conservadorismo alienante fruto de gerações reprimidas e moldadas pelo silêncio e distorção entre liberdade e libertinagem.

Quando eu era criança, a minha casa tinha uma mangueira. Que me dava não somente frutos, sombra e galhos para subir. Era um porto seguro, um salvo conduto, a anistia de todos os pesadelos construídos pela repressão. Porque não era permitido me conhecer, ainda mais sexualmente.

No verão, na adolescência, eu tinha praia, pra aliviar a tensão, o tesão. O vento, o sol, o som das marés sempre me acalmavam. E foi tudo isso que me construiu. A praia tirou a rigidez da minha personalidade. Me fez menos vil e mesquinho.

Hoje, eu me sinto como a pipa pairando lá no céu. Tão leve, tão solto, tão livre. Preso apenas por uma linha me puxando sempre de volta. Não me impedindo de ir longe, de seguir os ventos bons, a linha é de fato para não deixar eu me perder, para não esquecer o rumo.

Me perguntaram se eu sou mesmo extrovertido. Eu? Não. Eu sou bastante introvertido. O problema é que na cabeça das outras pessoas, se você não é uma coisa é outra. Não há meio termo, o controverso não é aceito. A lógica é racional. Repito, na cabeça da maioria.

Na verdade a minha profissão, a minha função social não me permite ser diferente. Porque eu preciso tornar público o que eu penso, e ainda preciso lidar todos os dias com diferentes pessoas nos demais ambientes. E parecer alegre, falante e extravagante quase que se condicionou a realidade.

O que eu penso não pode ser dito com frequência. As pessoas nunca vão entender quem eu sou, e seria até covardia pedir-lhes isso. Eu sou fruto da minha história. Gerações inteiras não vão me entender. Por isso, a personificação do meu eu é bem diferente da manifestação.

Eu comigo, sou calado, triste, teimoso e crítico. Talvez por isso nesta última viagem me perguntaram tanto porque eu estava tão pensativo. Eles nunca passaram tanto tempo confinados comigo. Foram respeitosos, claro, mas achando que eu estava doente. Equivocados, mas sem culpa.

Os meus amores me querem inteiro, em qualquer posição, qualquer posicionamento. Ali não tinha paz, mas tinha meus livros. Aqui não tem meus livros, mas tem paz. Entre duas casas minha história nunca vai começar.

Aqui no Rio Madeira a vida é mais racionalizada, sem supérfluos. Sem tantas prioridades, mas é calma e plena. É tanto silêncio que a minha alma grita por essa liberdade, porque desde o começo do ano eu estou me afastando de tudo que me faz mal, que me atrasa, que não compreende a minha existência.

Minha particular existência. Estou novamente na minha tranquilidade, no meu momento. E é difícil explicar a alguém o quanto isso me agrada e o quanto me completa.

sexta-feira, 8 de março de 2013

A primavera da vida

Em janeiro eu tinha feito teste de HIV. Por precaução, para me cuidar, e porque quem tem vida sexual ativa tem mesmo que fazer este e outros tantos testes há cada seis meses. Eu já tinha feito o teste rápido, aquele que fura o dedo e o resultado sai em poucas horas. Deu negativo, mas sabe como é, um exame só não tira dúvidas, por isso fiz um exame completo que a psicóloga pediu, esse verificava até se eu tinha vergonha na cara, mas o resultado demorava pelo menos um mês.

Confesso que na primeira vez que fui ao hospital fiquei bastante nervoso e imaginando a morte ao pé da minha cama. Imaginava ter que contar aos meus pais, ao meu melhor amigo, e aquela imagem era deveras assustadora. Segue que eu nem mesmo poderia imaginar o resultado, mas na minha mente hipocondríaca já se passava até fazer dieta para sempre. Depois de muito ler a respeito da doença, concordei em ir fazer o teste indiferente ao resultado.

Eu não acho que eu preciso expor a minha vida pessoal desta forma, mas alguém tem que servir de exemplo e por isso eu estou contando como foi. Na triagem eu fui com um amigo, ficamos rindo de nervosismo e imaginando nosso futuro, na segunda vez eu fui sozinho e conheci um carinha muito boa pinta - o Jhonny, que não estava menos nervoso do que eu, mas sabia disfarçar melhor. Apesar de está sentado bem a minha frente, ele arrastava o olhar do chão para o meu rosto, do meu rosto para a parede.

Nem demorou, conversamos e começamos a criar afinidade pra tentar fugir daquele espaço pavoroso que é a sala de espera. A psicóloga nos atendeu, encaminhou para a enfermeira coletar o material e saímos de lá andando, fugindo de ônibus, táxi e tudo que desse claustrofobia. Na terceira vez - esta semana, para pegar o resultado eu fui sozinho. Já não tinha medo, nem euforia, fui de uma estranha macheza que só me impulsionava para ir, fosse o que fosse.

A demora para ver o resultado me incomodava, mas vi uma excelente oportunidade para refletir sobre o significado daquela situação. Porque ter vida sexual ativa na minha idade é uma dádiva, uma benção, mas foi esta condição que me pôs naquele ambiente. Arrastei o olho discretamente para todos. Vi o grupo residente de universitários da UniNilton Lins, os burgueses incompetentes que não passaram em universidade pública. A jovem de jaleco da pública com o celular nas mãos atualizando seu status, mais preocupada em ser medíocre do que atender aos enfermos.

Eu entrei no consultório, a psicóloga me perguntou se eu estava assustado, se eu transava sem camisinha, se eu tinha parceiro fixo e aquele questionamento com cara de senso do IBGE já estava me entediando. Perguntei se tinha dado positivo o exame do casal segurando as mãos em recíproca, os que entraram no consultório e saíram de cabeças baixa. O adolescente que saiu com um sorriso estampado. Ela riu e disse que não ia responder por ética, enquanto rolava o mouse atrás do meu resultado.

Me lembrei mesmo do rapaz na sala de espera que estava ao meu lado. Tinha um rosto angelical, mas todo vermelho a ponto de desmoronar. Não se controlou, chorou. Chorou muito ansioso pelos minutos seguintes, velando seu próprio destino, sem nem saber o que viria. Este me marcou muito, sua expressão ficou impregnada, porque eu que já estive na mesma situação, me achava agora ridículo por temer a morte, acresce que nem de longe ela havia sido anunciada. De maneira sádica, aquilo não me assustava mais. Pensei em ligar pro Jhonny, mas ele devia está trabalhando e eu nem sabia o resultado do exame do garoto.

"Deu negativo. Deu tudo negativo, olha aqui na tela." - Me avisou a psicóloga, me tirando do pesadelo. Eu ri. Me veio um sorriso sádico, porque a situação toda era sádica, como já expliquei antes. Me achei sortudo e imaginei está ganhando uma segunda chance, a própria psicóloga riu e disse: "Te orienta!". Quase ficamos brother. Tirei o sorriso e saí do consultório todo sério. Todos me olhando na sala de espera, realmente esperando algum sentimento esboçado no meu rosto e não rolou. Um lugar cheio de pessoas vazias.

A minha saúde está bem, o meu futuro está bem, as camisinhas estão no bolso, a vergonha está na cara.  O que significa que logo mais estamos aí. E depois estamos aí de novo. Na pista. Que é pra não dizer que jogar com a vida é excitante, sabendo que o resultado de todo este desespero é para provar que estamos mesmo vivos.

domingo, 3 de março de 2013

Queridos Amigos

Quinta-feira eu fiz 22 anos, outros dois amigos completaram ano no mesmo dia. Na sexta minha mãe completou 56 e diversos amigos vão completar ano este mês. Eu sei, eu sei, aniversário é apenas mera convenção social, ou seja, convencionou-se que é necessário festa, reunir os amigos e outros diversos símbolos emblemáticos para construir um ambiente de afeto e homenagem.

Eu quero que vocês saibam que deu certo. Eu fiquei muito feliz com tudo. Até flores eu ganhei! Ganhei vídeo de uma amiga cantando, ganhei novos amigos, duas novas oportunidades profissionais. Sinto o corpo e o copo cheio de esperanças. Uma eterna criança, rindo de tudo que me fazia chorar, escolhi cantar. E por isso juro felicidade a mim mesmo agora, depois e na velhice.

Não poderia ser diferente. Cercado de amigos me protegendo, me desejando o melhor, de sexo a sorte no jogo. Eu querendo apenas está entre o sábio e o poeta. Desejando um belo futuro para logo mais, apagando as velas, sem velar o passado. Lembrando Drummond: "E como ficou chato ser moderno. Agora serei eterno. Eterno! Eterno! O Padre Eterno, a vida eterna, o fogo eterno."

Eu quero também agradecer a todos que mandaram in box, sms, e-mails, os de longe que estiveram pelo Skype, que ligaram, foram ao meu aniversário. Beijão pra minha família, amigos, professores, colegas de faculdade e trabalho. Obrigado pelo carinho, suporte, e por me fazer uma pessoa melhor e especial todos os dias. Amo vocês. De coração, muito obrigado!

sexta-feira, 1 de março de 2013

Vingt-deux Années

"Convicções são entidades mais perigosas que os demônios. (...) Quem não está convicto está pronto a escutar - é um permanente aprendiz." - Rubem Alves. 

Ninguém vive no mundo. A gente vive no nosso mundo, todo exclusivo, cheio de gostos, vontades e interesses próprios. É curioso porque quando você encontra alguém na rua, você não pergunta: "O que você está pensando?" supondo que a outra pessoa é um ser pensante, cheio de sentimentos. Você geralmente pergunta: "O que está fazendo?" Colocando a pessoa numa função, já que "fazendo" é um verbo no gerúndio que indica ação. 

Sim, claro, é importante ter pensamento próprio e ter unidade. Mas a falta de afeição com as outras pessoas não é ter personalidade. Por isso, é também importante está convicto a ser sempre aprendiz, a adaptar-se as situações, os lugares e as pessoas. Porque você nunca sabe se o vizinho chato será seu chefe em alguns dias, ou se o seu colega de trabalho será seu melhor amigo no futuro. 

Eu estava me questionando se deveria escrever sobre completar ontem 22 anos de idade. Não vejo razão lógica e especial para isso, já que se acrescentaram alguns dias a mais na minha vivência, apenas. Se fosse para isso, agradeceria apenas as pessoas de bom coração que se lembraram desta data e a tiveram como especial, e me fizeram sentir especial, verdadeiramente amado. 

Deu saudade das pessoas que não estiveram presentes. Aquelas que estiveram nos 18, 19, 20, 21 e não agora nos 22. Senti falta de quem não esteve nos outros, mas deveria estar presente neste. Porque não se "desama" dando um mero tchau. Da minha parte não foi falta de amor, foi falta de estrutura psicológica. Não foi falta de sentimentos bons, foi falta de competência para administrar as situações. Mas caso tenha esquecido levemente o acontecido, tá tudo aqui guardado para sempre ser lembrado. 

Se o orgulho e a indecisão ainda estiverem presentes, não espere, não vacile, vá em frente e volte atrás. Volte atrás com o que fez com o que disse. Nobre mesmo é saber reconhecer quando erra. Seja sempre aprendiz. Nunca se faça convicto. Não esteja convicto de coisa alguma. Cresça sempre, amadureça sempre. Queira bem as pessoas, faça o bem para as pessoas. Vê se fica bem!