quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Para não esquecer.

Pergunto a minha mãe - nascida em 1957, como as pessoas mais pobres faziam quando precisavam de cuidados médicos antes da implantação do SUS no Brasil. Ela diz que não se lembra exatamente como era. Me deixa assustado. Minha mãe pelo visto faz parte da maioria da população brasileira que não se lembra ou sabe, por ignorância, displicência ou comodismo como é não ter direitos sociais. Essas pessoas simplesmente não sabem que não é dom divino educação e saúde pública. É conquista. Hoje ela e eu temos planos de saúde caríssimos, mas ela não sabe que só conseguimos isso porque viramos classe média e essas condições só vieram por conta das políticas públicas que incluíram os mais necessitados. Quatro gerações da família e eu fui o primeiro a ingressar em Universidade Pública, essa é uma realização muito grande para minha geração. Mas não, as pessoas não veem isso como conquista; direito social. Justamente por isso as pessoas não se sensibilizam ao saber da PEC 241, a maioria da classe média (horrorosa) hoje goza de plenos direitos conquistados nos governos Lula e Dilma, exatamente por isso eles não têm parâmetros pra discutir se 20 anos de congelamento nos investimentos públicos é bom ou ruim. A maioria esqueceu como é viver sob um Estado neoliberal, de austeridade fiscal, onde o arrocho vai em direção dos mais pobres, enquanto os ricos e sobretudo a classe política continuam reproduzindo e impondo seus privilégios. Parece que ninguém lembra como era receber menos de R$100,00 de salário e ter que rezar pro dinheiro chegar ao fim do mês. O que sobrava era mês no fim do dinheiro. E mesmo que isso tenha acontecido há tão pouco tempo na história do Brasil, e de fato aconteceu, aconteceu mesmo, quem nasceu no começo dos anos 90 lembra disso, é difícil de convencer as pessoas de que estamos caminhando pro retrocesso com o governo golpista ilegítimo de Michel Temer, e com pleno apoio do PSDB que durante o governo FHC entregou nosso país a subserviência do FMI, vendeu nossos setores estratégicos sem sequer consultar a população, não construiu nenhuma universidade, escondeu a maioria dos escândalos de corrupção em seu governo. Repito, é assustador que as pessoas tenham memória e sensibilidade tão fraca.

Com rancor, se não, não tem graça.


Eu tenho um primo que veio de Belém atrás de uma vida melhor aqui em Manaus. Logo que chegou passou dias no sol quente procurando emprego até encontrar uma vaga numa operadora de celular. Contudo, pra trabalhar nessa empresa ele precisava de calça e sapato social (o que ele não tinha). Aqui em Manaus ele ficou hospedado na casa daqueles que se dizem minha família paterna e que professavam morrer de amor por ele. Não o ajudaram em nada.

São uma gente insuportável que sempre me perseguiu, me julgou, desprezou, me trataram mal, sempre jogavam discurso de ódio em cima de mim. Nunca me ajudaram em porra nenhuma também, só me fizeram mal desde que eu comecei a morar em Manaus onze anos atrás. Enfim, esse pessoal não ajudou meu primo porque são uns mortos de fome que não tem nem pra si, e que ao invés de procurar melhores condições vivem a cuidar da vida alheia. Pasmem: são todos evangélicos e não saem de dentro da igreja. Pois é, fui eu que logo após ter sido expulso de casa, com pouco dinheiro pra me manter fui ajudar esse meu primo com uma calça e um sapato social pra que ele pudesse conseguir a vaga de emprego.

Passado mais de um ano, hoje esse meu primo só me manda mensagem quando precisa de dinheiro, e eu que não tenho vocação pra idiota não mantive mais contato com ele. Mesmo assim me reservo o direito de me indignar e achar um absurdo ter uma família tão podre e desprezível. Podem me julgar o quanto quiserem, mas eu sou o único de seis filhos que entrou numa Universidade Federal, fez Mestrado e é concursado, enquanto essa familiazinha de merda vive fodida sendo explorada por pastor comedor de cérebro.

Obs: NÃO AO GOLPE! Não a PEC 241! #ForaTemer

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Bruno

- É só marcar que a gente vai tomar esse sorvete... Compra um patins pra ti também...

Bruno, don't think we're ok just because I'm hear, you've hurt bad but I won't shed a tear.

Sorry, pausa na Duffy. Warwick Avenue. Too dramatic.

Não pense que está tudo bem. Você me magoou feio (mais esta vez) no dia que marcou de ir andar de bicicleta e fez um escândalo dizendo que não ia esperar porque eu iria me demorar. Veja como a sua ingratidão me dói. Exatamente uma semana antes quando tu estavas doente ligou todo mansinho pedindo ajuda. Tua namorada não te ajudou, nem conte com nossos pais, muito menos teus amigos. Tamanha é a lei de afetividade e intimidade que o sangue clama, que fui o santo mais preciso (e rápido) pra quem enviastes uma prece. Naquele dia eu tinha compromisso, sabe. Mas saí o mais breve que pude do trabalho pra te comprar os remédios, eu conheço essa tua demanda de alergia since we were kids. Então eu perdi minha sessão de acupuntura e tu chegou atrasado. Tu estavas em casa descompromissado naquele dia, eu de ônibus deixando um compromisso tentando ir a outros dois, tu de carro. Eu cheguei no horário marcado no Millennium, mas fiquei te esperando porque eu tenho lá meu lado altruísta e te tenho amor. Ainda que o altruísmo tenha uma face ambígua do egoísmo; a gente faz porque espera algo em troca, neste caso alguma coisa de gratidão. Tipo compre um e leve  alguma outra coisa que pra alguém parece vantagem. Amar alguém é também abdicar de suas preferências, como, por exemplo, apropriadamente neste caso, manter 100% de pontualidade todas as vezes, uma vez atraso não mata ninguém. Amar alguém é mostrar que temos real intenção na vida da pessoa. Fora o fato de que eu comprei os teus remédios - que não foram barato, com o dinheiro da minha poupança que reservo tal e qual para comprar o carro, já que eu ainda não tinha recebido meus vencimentos, depois eu repus o dinheiro, sem bronca. Bitch better have my money.

Sete dias depois de te comprar os remédios tu fostes extremamente grosso, insensível, desrespeitoso, egoísta, me vilipendiou dizendo que não ia esperar. Frívolo. Eu tinha me programado pra passar um tempo agradável contigo após teres te recuperado, mas veja, tinha chego em casa pouco tempo antes de tu me ligares, apenas me joguei na cama, estava exausto, esperando tua ligação pra criar forças pra levantar e ir ter o tal tempo agradável pra distrair toda uma carga negativa construída durante o dia, sem sucesso, com frustração. Parece tolo, tu não me vais dar razão - porque nunca das, tu vais te justificar até a morte pra provar pra si que estou redondamente enganado. Magoa. It's not just a little thing. Mas eu insisto, tu já fizestes isso tanto comigo que pra ti é comum, cotidiano, rotineiro sobejamente impor as tuas preferências e exigências pra cima de mim. Tu exiges imperativo, não existe um diálogo pra chegar a um meio termo "nem eu, nem tu" e por fim eu tenho que ceder (não sei porque lei de transtorno cerebral o faço) pra que um simples passeio se faça. Enough. I'm sick and tired of my phone r-ringing. Então não pense que estamos bem só porque eu estou aqui. Te atendo com complacência, paciência, não abuse. Se precisar de mim de novo, cê sabe que a casa é sempre sua venha sim (Chico). Mas venha com retidão, mansidão, que, meu caro, não lhe custa nada. E o santo é de barro.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

A Sabor do Momento

Dentro de mim habitam dois cães. O primeiro é um poodle dócil, meigo e companheiro. O segundo é uma mistura de Rottweiler com Pitbull. Ambos coabitam alternando-se a sabor do momento. O primeiro senta, escuta, ajuda a curar as dores, o segundo é onipotente, onipresente, teimoso, indisciplinado e não arreda o pé do pátio da minha mente. Os dois são amigos entre si, mas se manifestam em sentidos opostos quando visitados sem autorização. Um todo mundo ganha de graça, o outro você precisa colocar a mão pra dentro da grade pra conhecer.