terça-feira, 16 de outubro de 2012

O outro lado da meia-noite em BH

Eu sempre digo que o primeiro que enfiar a faca merece ficar sozinho, a deriva, a própria sorte. Eu sempre digo que o desleal deve provar do próprio veneno. Eu não nunca pensei que a fuga da realidade me traria tanto pesar.

As Minas Gerais me dizem para não resignar. A psicóloga me disse para saber me perdoar pela mentira, para entregar a você toda a culpa por não ter cuidado de mim. O Dênis me disse que nós três somos culpados. Eu por ter sido fraco. Você por ter me posto de lado nas horas em que precisei de colo. Ele por não se compadecer da situação.

Daqui da varanda eu consigo enchergar a Belo Horizonte inteira, com uma sensação de vastidão e um vento frio que me corroe a alma com um grande vazio. Um quadro pequeno na parede, com o desenho de uma Araucária com muitos escravos negros ao seu redor me passa o sentimento de que tudo pode e deve se acabar. Inexplicavelmente, subitamente me vem uma vontade de gritar, uma ansiedade incontrolável como nunca tinha sentido antes. Medo, como se não pudesse sentir o chão.

As luzes da cidade muito vivas, os carros minúsculos passando lá por baixo. Os fogos estourando no céu porque o Atlético-MG venceu o jogo a duas quadras daqui, no Independência. Eu, deitado numa velha voltaire de madeira, ouvindo baladas bregas remoendo os problemas dos quais eu tinha tentado fugir. O meu coração encharcado de vinho, eu não sei porque eu não fui embora.

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