quarta-feira, 24 de outubro de 2012

E a homofobia, hein?

Resolvi escrever este post depois de uma dose de Aguardente de Cana e uma conversa muito sóbria (ainda que a situação pareça toda paradoxal). Foi uma conversa realmente muito objetiva com um sociólogo e arquiteto aqui em Uberlândia - MG. Foi neste exato momento que decidi escrever o que eu já tinha como uma dívida a ser paga.

Veja, a intolerância com os relacionamentos homoafetivos, os pedidos de união estável e casamento gay não passam de despreparo ético e moral, e demonstra o quanto as pessoas não acompanham as transformações socioculturais e cívicas. A maioria prefere nem opinar muito ou se abster simplesmente de um embate que é global.

O que as pessoas precisam entender é que o mundo não é estável, sem variações nas relações sociais, econômicas, políticas, culturais e religiosas. Hoje, mas do que em qualquer outra época, as relações sociais se materializam no espaço e tempo muito contrária a lógica conservadora e tradicional. Movimentos como a Parada Gay são excelentes instrumentos políticos para a categoria social, visto que há o reconhecimento da potencialidade do movimento. Quando Milk começou esse movimento em São Francisco - Califórnia (E.U.A) ele nem sequer podia ter dimensão do quanto sólido ele viria a se tornar.

Eu falo de instrumentos políticos para lembrar que, quando um casal gay resolve juntar as escovas de dente e pôr alianças, não necessariamente estão impondo o "novo" a uma sociedade que já deveria ter se acostumado com toda a ideia de ver pessoas do mesmo sexo se relacionamento, porque isso nem novo não é, desde a época dos impérios já existiam relações homoafetivas. Fato é que admira e consterna a todos, o que não deveria acontecer, já que tudo é muito simples: solicitar um documento que dê legalidade e reconhecimento de uma união que antecede as vontades e os gostos alheios.

Permitir o casamento gay significa dar direitos cívicos a cidadãos que cumprem com seus direitos e pagam impostos, ou seja, são tributáveis como qualquer outro dentro de uma sociedade gerida pela figura do Estado. Significa dar a oportunidade de querer adotar, tirar uma criança de um orfanato e dar o que o próprio Estado negou: amor, carinho, uma família e acima de tudo: educação.

E por falar de educação, segundo a lei 205 da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) diz que: "A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania [...]" logo, exercício pleno da democracia. E sob esta perspectiva, por que não permitir a construção de uma família que possibilite a uma criança não somente uma casa, mas um lar, educação? Apenas isso, uma unidade cívica.

Entendam ignorância não deve ser apenas combatida e punida, deve ser discutida. O ponto de partida não deve ser apenas criar projetos e estabelecer leis que acrescentem penalidades a quem por si só é refém da falta de instrução, educação ou que simplesmente está sob os moldes de uma sociedade mantida por padrões já subestimados. Precisamos de mais projetos socioeducativos, e não me refiro àqueles Kits Gays ridículos promovidos pelo Haddad. Este tipo de material tenta doutrinar, e não educar as crianças quanto às diferenças existentes. Ninguém precisa dizer se ser gay é bonito ou feio, é necessário combater a violência e ensinar o respeito entre as pessoas. Não é uma questão de adjetivar, é qualificar o que significa ser gay e como isso se insere no contexto social.

Insisto, educação pode suplantar a ignorância. E não entendam que educação é suficiente se houver caso de violência. Porque afinal, não é essa perspectiva positivista e militarista que estampa nossa bandeira? "Ordem e Progresso"! Então que seja realmente abrangente a todos.

Outro dia, meu irmãozinho de apenas 3 anos de idade me viu segurando uma embalagem de cor rosa de um dado produto estético e logo gritou: "Não mano, larga isso, é de menina!". Eu parei, fiquei extremamente intrigado com a astúcia do comentário. Afinal, ele nem sequer sabe escrever o próprio nome, mas já emite juízo de valor que certamente foi ensinado em casa ou na escola, porque quando crianças o nosso comportamento é assimilado e imitado em relação ao dos adultos. E ele ainda foi confirmar com a minha madrasta: "Não é mamãe que isso é de menina?", ela, toda sem graça desconversou e mandou-o ir brincar na sala, já que ela sabia que ambos estavam errados.

O que o meu irmãozinho e todas as crianças precisam saber é que eles decidem quem querem ser, quando eles estiverem com seus sentimentos amadurecidos e fazendo uso do poder de escolha. Ou simplesmente quando tiverem consciência de que existem. O que o meu irmãozinho não precisa ouvir é que gênero é distinguido por cores. Ensinar isso a ele é como pedir que observe a tampa de uma champanhe estourando bem próximo a seu rosto. Simples, é burrice, burrice consciente, não há margem para interpretação, você sabe que não é o certo a fazer. Ainda há muito a ser feito para diminuir e acabar com o preconceito contra homossexuais. Vamos começar acabando com as lâmpadas jogadas em seus rostos na Av. Paulista.

Sorte a nossa por ter nascido numa geração com sociedade puritana e corruptível. 

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