sábado, 13 de dezembro de 2025

Tá custando 27 reais a entrada para o cemitério das velhas emoções

Não sei exatamente se faria jus dizer que custa 27 reais a entrada — ou a revisita — ao cemitério das velhas emoções. Mas começo dessa forma para avisar ao leitor que, desta vez, a metáfora está escrachada e talvez tão literal que perca a real intenção de ser eufêmica novamente ao retratar o velho e fiel companheiro: o estresse pós-traumático. Viu? Não consigo segurar o primeiro parágrafo sem me decidir se embelezo ou vou direto ao problema.

Por fim, tomado pelo cansaço do avançar da hora e da natureza intrinsecamente esgotante do problema — o TEPT, que deveria estar subentendido —, agora opto por não seguir estilo nenhum. Afinal, quem quer estar cagando regra na madrugada da sexta para o sábado, isolado, explicando o custo biológico, psíquico e monetário de invadir o próprio sofrimento e expô-lo como se alguém fosse descobrir agora mesmo que sou culpado de gastar 27 reais para tornar material o meu pesar.

Sinto que quase chorei, mas não me daria esse luxo em público. Já foi luxo demais gastar 27 reais num pedaço de cheesecake na tentativa de visualizar o que tinha se dado como resolvido e que apenas um período de sofrimento trouxe tudo à tona novamente. Com uma força tão ordinária que não parece justificar ter alimentado meu cérebro com tanta glicose apenas para recalcar velhas emoções.

Repare bem, leitor, que prometo e falho em ser literal ou metafórico. Esse jogo de ir e vir que todos nós fazemos, mesmo quando damos muita importância à consciência. O orgulho de Lacan.

Faço um novo teste na intenção de, por fim, tentar exorcizar essas emoções.

Após anos de insegurança alimentar, já estabilizado financeiramente, criei o hábito inconsciente de vagar pelas ruas da minha cidade à procura de uma cafeteria que justificasse a fuga e, ao mesmo tempo, confirmasse que, ao sentar, pedir e degustar, eu já não estava mais naquela época de incerteza. Que aqueles contextos de tormento tinham ficado para trás.

E, mesmo tendo se passado mais de um mês desde o fim dos sete meses em que experimentei novamente toda a angústia de adiar o conforto do paladar para realizar velhos sonhos — agora ressuscitados —, ainda me sinto indigno do cuidado, do amor, do afeto e de aceitar que estou de volta à segurança, e que tudo aquilo foi apenas parte do desafio do projeto. Hesito em me realizar.

Talvez por isso eu tenha perambulado novamente pelos mesmos corredores de antes para encontrar a mesma cafeteria genérica, onde eu poderia sacar o mantra de que acabou — e, ao mesmo tempo, voltou. Tento, a cada garfada, dizer que isto está certo; que o velho hábito de comer uma sobremesa superfaturada e superestimada fosse me dar a tão importante confirmação de que voltei. Eu tô aqui, o cheesecake estava lá, e tudo voltou a ser o que era antes. Quase arranco um tufo de cabelo para me certificar de que era real. Talvez essa dor específica me trouxesse ao fato de que eu a provoco e, assim, tenho o controle, não sendo mais imputado às intempéries das noites frias de desconhecimento.

Eu como, alimento e conforto. Os velhos verbos imperativos que traduzem voltar a esse cemitério. A busca vazia da seduzente alienação. Como se revisitar um lugar de pedra, mármore e gente morta pudesse trazer a segurança daquele tempo — ou qualquer outra coisa que se busque como consolo num espaço onde se guardam memórias por consideração, cuidado e inevitável finitude.

E, afinal, o cheesecake condensa classe, trauma, desejo e culpa. Não é prazer pleno, é teste. É o mero objeto de verificação do material. Ele não simboliza vitória, simboliza prova — e isso é o que dói.