Na semana passada foram quatro reencontros inesperados. Daqueles que você não marcou nada e nem convidou para um café, desagradável mesmo. Nessa vida atribulada, cheia de a fazeres encontrar quatro pessoas do passado em uma única semana é no mínimo curioso. A cidade é pequena e provinciana, verdade, e com isso meio mundo sai de casa e convergem todos nos mesmos lugares.
A primeira ligou e disse que tinha encontrado o meu número "por aí" e a saudade levou a me ligar pra saber se estava bem, eu: "bem, obrigado.". Fui educado, claro, culpa da minha mãe ter me colocado tanta frescura e filtros pra tratar os outros, podia ser um pouco mais rude e grosseiro como o meu pai. Ainda assim, pautado por educação disse que estava tudo apenas bem e que as novidades eram as mesmas de sempre.
A segunda eu tive a infelicidade de topar na rua e daí não tinha como ignorar, tive que sorrir, abraçar e conversar por uns longos três minutos. E não me faça o leitor cara feia! Não me venha com essa de 'falsidade', falsidade seria dizer que essas situações não acontecem e você tem que fazer o mesmo, sorrir e ser agradável, não sou eu quem vai destratar alguém na rua só porque não vou com a cara.
A terceira veio a mim para dizer tudo o que eu já tinha escutado antes da mesma boca, sobre os mesmos sentimentos do inconsciente e a esta não consegui ser indiferente. Expliquei com calma e carinhosamente que era muito mais proveitoso sermos apenas amigos, porque esta decisão já tinha sido tomada há alguns meses e não tinha mais o que lhe prometer senão minha devota amizade. Não fui indiferente porque com esta terceira não tive desafetos e nunca existiu entre nós dois algum clima de animosidade, nunca aumentei sequer a voz e só poderia ser agora uma boa amizade.
A quarta e não menos detestável que a segunda eu fui obrigado a encontrar na companhia de três bons amigos. Entrou no carro depois de mim e eu tive que novamente usar todas as frescuras como manda o figurino, "boa noite, como vai? bem, obrigado". Apesar de ter sido um relacionamento rápido e enfadonho, ficou no passado e da minha parte não há mágoas, ódio... a criatura é por outro lado, detestável por natureza. Passou a noite in-tei-ra sendo asquerosa e tentando me irritar com indiretas, falando alto, às vezes cochichando e gesticulando com seu melhor amigo, mas num tom que dava pra entender que era sobre mim. Pra mim não foi o mais agradável sentar na mesma mesa, mas me subiu uma indiferença tão grande que lhe deixei falando só e nem sequer lhe dei o desfrute de uma anedota, quanto mais ficar glosando como se fosse necessário.
Contudo, pensava comigo que se fosse pra abrir a boca, seria pra dizer "Escute, aproveite a noite com as outras pessoas da mesa, eu já sou passado e nem notícias suas eu tenho mais. Não me queira mal, me queira bem porque eu estou te querendo bem neste exato momento, da minha forma."
A indiferença não é tratar os outros mal, ser inconveniente e se vingar com baixarias. Mas você sabe que nada dói tanto quanto perder. Sabendo disso, a noite decorreu sem lhe dirigir uma outra palavra. O chato foi ver que passei a noite sendo observado por alguém que lá longe tive carinho e que agora me olhava como uma hiena, sorrindo e querendo ferozmente avançar no meu pescoço. Eu, com semblante calmo já tinha mudado de estratégia há muitos anos e já estava bastante satisfeito com toda a situação. Na hora de me despedir, novamente vesti o traje da elegância e ao pé do ouvido: "Vê se fica bem!".
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