segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Também não dou mole

Não sou de falar sobre como me sinto pra pessoa que me ofende. Sou assim desde criança. Detesto conversas extensas sobre sentimentos, acho frívolo. Puxei a minha mãe. A pessoa me ofende, eu me afasto sem dar explicações. Não gosto. Acho um desgaste desproporcional. Faço isso puramente para me proteger. Recuo mesmo, de prontidão. Minha mãe sempre diz que dá um boi pra não entrar numa briga, e uma boiada pra não sair dela. Eu também. Pareço brigão, faço contenda e questão por tudo. Mas Deus sabe o esforço que eu faço pra não entrar em conflito.

Lembro de ter parado de conversar com a professora de francês quando eu tinha 11 anos. Ela foi rude, se desculpou porque é assim que manda a etiqueta, mas nunca mais ouviu nada além do necessário de mim. Nunca tolerei falta de respeito.

Sou tímido. Não é por falar muito que sou extrovertido, por amor de Deus! Falar muito é ser tagarela, ter opinião. Mas não discuto sentimento com qualquer um. E quando alguém me ofende eu fico por ali pelo canto remoendo, me indignando, me enchendo de tédio, engolindo como quem engole um remédio ruim, me afasto até matar a pessoa dentro de mim.

Tantos outros com quem eu perdi contato acharam que eu me afastei por orgulho, prepotência, talvez seja por isso também. Mas eminentemente por proteção. Sinto que se te mato ganho sobrevida. E não me venha com receita de bolo sobre "nós conseguimos superar isso conversando". O ofendido é quem sabe o próprio fardo.

Odeio pedidos de desculpas quando a pessoa faz algo que obviamente é intencional. Não tem nada mais incompetente do que pedir desculpas. Pedir desculpas pressupõe que você teria feito diferente. Se vc fez de maneira intencional, vc teria feito diferente?

Eu simplesmente não sou de expor sentimentos. Posso até mostrar a intenção, mas não dou mole. Eu nunca fiz isso e tá longe de eu ter a capacidade de fazer agora. Aliás agora contraditoriamente estou fazendo simplesmente pela força do ímpeto que me acometeu.

Já até tentei debater com o meu último desafeto. Foram os piores 3 minutos da minha vida. Um horror ficar de peito aberto. Sinto que dizendo como me sinto acabo parecendo uma fraude. Porque aparento ser uma planta de raízes profundas. Sou uma daninha, indesejável, uma praga. Por definição rústica.

Detesto quando me ofendem e tentam relativizar "ai, você é muito sensível". Não espere que eu rasgue explicações viris. Se eu chorar você até se comove, mas assim já é demais, nem eu me aguento.

Se você me ganhou de presente, com laço e etiqueta de garantida você que tenha cuidado com as suas palavras. As palavras fogem. Constroem e destroem. Não me acerte. Escolha com cuidado pra não me aviltar. Não pense que um pedido de desculpas me faz ter amnésia. Vai tá tudo bem guardado pra sempre ser lembrado. Porque eu também não dou mole.

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