Tava excluindo umas fotos do Instagram, parei em uma foto de 10 anos atrás. Uma barca de sushi, só isso. Me perguntei qual era aquela ocasião. Lembrei que foi o dia que fiz a reserva em um japa pra levar o garoto por quem eu era apaixonado. Era um cupom, já tava pago, não reembolsável. Eu ganhava muito pouco naquela época, trezentos e sessenta reais ao mês. O que significa que comprar um cupom de sushi era um grande evento para as minhas possibilidades.
Marquei de encontrar com ele numa praça. Esperei por quase duas horas ali sentado, liguei, mandei mensagem, ele não foi ao meu encontro. Saí dali e fui comer o sushi sozinho. Fiquei muito sentido, quase chorei ali mesmo. Engoli. O sushi e o choro. Porque era tristeza, mas também vergonha. O restaurante estava vazio, lembro de ser o único cliente sendo atendido naquele momento. Mesmo assim sentia que se caísse uma lágrima estaria admitindo o dano que me tinha acometido, e, com isso, imediatamente todos os garçons saberiam exatamente o que tinha acontecido. Alguma neurose que não fazia sentido algum.
Esse menino ainda me fez de gato e sapato algumas vezes. Eu inconscientemente permiti. Estava cego, não conseguia enxergar o óbvio. Que pra ele eu era um passatempo, a última opção do rolê. Se não restasse nada minimamente interessante a fazer, ele aceitava sair comigo. Veja, fino leitor, eu não valia um cupom de desconto. Ainda que eu me comportasse como um príncipe com ele. Fazia de tudo para agradar. O problema não estava em mim, não tinha nada que eu pudesse fazer que alcançasse o padrão estabelecido pela cabecinha imatura daquele anjo, para não utilizar o arcabouço de adjetivos negativos que eu elenquei para ele.
Vire e mexe e a gente se esbarra por aí nos rolês, ele vem falar comigo, eu sou sempre frio, desinteressante, não prolongo o assunto. A regra é simples: estará sempre tudo bem e nunca terei novidades. Ano passado, por exemplo, nos esbarramos na hora de sair do avião. Só por sacanagem do destino, clichê ou simplesmente porque a cidade é pequena mesmo e tudo converge. Com milhares de voos circulando por minuto e nós estávamos há duas fileiras de distância. Me levantei, peguei minha bagagem, estava de máscara, óculos de sol e boné. Ele me reconheceu, arregalou os olhos, tentou vir pegar na minha mão, tinham pessoas na frente, não tinha como. Por um segundo eu quase não reconheci ele. Não exatamente por ser vingativo e rancoroso - o que sabidamente o leitor já notou que eu sou. Não é também como se fosse raro a gente se esbarrar por aí. O circuito cultura dessa cidade é bem resumido e nós temos gostos muito parecidos. Invariavelmente nos esbarramos. Não por esforço meu, como ocorria no passado, apenas circunstancialmente.
Voltando para dez anos atrás. Enfim, alguns meses depois do episódio do cupom, e algumas centenas de reais gastos, ele finalmente admitiu que me via apenas como amigo. Não passava disso. E eu era isso. E tinha sobrado isso: o prêmio de consolação. Mister friendzone do ano. Eu que não conseguia me desligar dele facilmente me contentei com a amizade, afinal, ele adorava o que eu fazia por ele, não me adorava, adorava o que eu fazia para ele, que tenha ênfase. Nos anos seguintes nós até saímos juntos, nos beijamos, transamos, e não passou disso, como nunca passaria de fato. E olhe que eu ainda fui uns três anos louco por ele. E a loucura acabou do jeito que começou, porque sempre acaba.
Hoje eu posto foto no rolê, ele reage, comenta e eu visualizo. Não tenho vontade de responder. É apenas a nossa estranha forma de manter a conexão e dizer que os dias que passamos juntos valeu para formalizar alguma coisa próxima do não esquecimento.
E eu sou assim com todos atualmente, virou regra. Não para descontar em alguém que não tem nada a ver com as marcas que tantos outros me deixaram. Talvez o meu terapeuta consiga avançar nesse tema com o tempo. Não é prioridade pra mim, mas eventualmente pode me trazer alguma qualidade nas relações.
E eu sigo sem energia. E eu era uma explosão de sentimentos bons. Me drenaram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário