quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Guilherme

Esse é meu irmão mais novo Guilherme. Em 2015 numa noite chuvosa e super conturbada nós fomos superados abruptamente. Eu lembro da tristeza dele em me ver partir e lembro da minha também. Ele não tinha idade pra entender o que estava acontecendo e eu não tinha como explicar, a única coisa que eu pude fazer foi pegar ele pelos braços, olhar nos olhos dele e prometer que um dia eu voltaria pra ele.

E todos esses anos se passaram, e na minha mente eu perguntava se ele me odiava, se sentia algo negativo em relação a mim, se ele lembrava de quando eu descia do ap e levava ele pro estacionamento pra jogar futebol, acresça-se o fato de que eu odeio futebol, e essa sempre foi a paixão dele. Mas ele sempre foi a minha paixão e eu jamais poderia ignorar nada que ele amasse porque ele é aquilo que o Chico Buarque chamaria de “pedaço de mim, metade afastada de mim”. Me perguntava se ele ainda lembraria de mim. Se ele não lembrasse, como eu voltaria pra ele? “Que a saudade é o pior tormento. É pior do que o esquecimento.”.

Durante a pandemia eu recebi uma solicitação pra me seguir aqui no insta, um perfil sem foto “Guilherme Amorim”, e eu sempre tive vários alunos chamados Guilherme, aceitei achando que era algum aluno que eu tentava ajudar on-line no contexto da pandemia. A que me assustei “será que é o meu irmão Guilherme?”. Perguntei a ele, que me respondeu “sim mano, tô com saudade”. Chorei, chorei muito. E ele se lembrava de mim, e ainda tinha lembranças boas de mim, e ele lembrava de jogarmos futebol. “Metade adorada de mim, lava os meus olhos”. 

Passamos os últimos anos conversando e esperando pelo momento em que poderíamos nos encontrar. Depois de 9 anos esperando pra reencontrar ele, agora ele já não é mais o meu neném, o meu pirralho, é um rapaz de 15 anos, mais alto que eu, com gostos próprios, por isso pergunto que música ele gosta, o que ele gosta de assistir, já não é como antes quando eu escolhia um rock e fazia ele dançar pra gastar energia, enquanto eu filmava e participava com a energia que tinha após um longo dia de trabalho e faculdade.

Após o nosso encontro ontem dirigi até em casa quase que sem atenção com um misto de satisfação e nostalgia. Um tanto exaurido. Talvez não faça mais sentido olhar pro passado e reviver a dor de ter sido privado do amor. Talvez seja melhor receber e retribuir esse amor acumulado para por fim nos conhecer, reconhecer.

Te amo muito Gui. Eu prometi que voltaria, eu voltei. Obrigado por me receber na sua vida com tanta generosidade. Você sempre foi muito importante pra mim e sempre será. Ontem significou muito pra mim.

Como diria o poeta Olavo Bilac “Como é bom poder enfim dizer o que nos enchia o coração.”.

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