Resolvi escrever este post depois de uma
dose de Aguardente de Cana e uma conversa muito sóbria (ainda que a situação
pareça toda paradoxal). Foi uma conversa realmente muito objetiva com um
sociólogo e arquiteto aqui em Uberlândia - MG. Foi neste exato momento que
decidi escrever o que eu já tinha como uma dívida a ser paga.
Veja, a
intolerância com os relacionamentos homoafetivos, os pedidos de união estável e
casamento gay não passam de despreparo ético e moral, e demonstra o quanto as
pessoas não acompanham as transformações socioculturais e cívicas. A
maioria prefere nem opinar muito ou se abster simplesmente de um embate que é
global.
O que as pessoas
precisam entender é que o mundo não é estável, sem variações nas relações
sociais, econômicas, políticas, culturais e religiosas. Hoje, mas do que em
qualquer outra época, as relações sociais se materializam no espaço e tempo
muito contrária a lógica conservadora e tradicional. Movimentos como a Parada
Gay são excelentes instrumentos políticos para a categoria social, visto que há
o reconhecimento da potencialidade do movimento. Quando Milk começou esse
movimento em São Francisco - Califórnia (E.U.A) ele nem sequer podia ter
dimensão do quanto sólido ele viria a se tornar.
Eu falo de
instrumentos políticos para lembrar que, quando um casal gay resolve juntar as
escovas de dente e pôr alianças, não necessariamente estão impondo o "novo" a
uma sociedade que já deveria ter se acostumado com toda a ideia de ver pessoas
do mesmo sexo se relacionamento, porque isso nem novo não é, desde a época dos
impérios já existiam relações homoafetivas. Fato é que admira e consterna a
todos, o que não deveria acontecer, já que tudo é muito simples: solicitar um
documento que dê legalidade e reconhecimento de uma união que antecede as
vontades e os gostos alheios.
Permitir o
casamento gay significa dar direitos cívicos a cidadãos que cumprem com seus
direitos e pagam impostos, ou seja, são tributáveis como qualquer outro dentro
de uma sociedade gerida pela figura do Estado. Significa dar a oportunidade de
querer adotar, tirar uma criança de um orfanato e dar o que o próprio Estado
negou: amor, carinho, uma família e acima de tudo: educação.
E por falar de
educação, segundo a lei 205 da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional) diz que: "A educação, direito de
todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania [...]" logo, exercício pleno
da democracia. E sob esta perspectiva, por que não permitir a construção de uma
família que possibilite a uma criança não somente uma casa, mas um lar,
educação? Apenas isso, uma unidade cívica.
Entendam
ignorância não deve ser apenas combatida e punida, deve ser discutida. O ponto
de partida não deve ser apenas criar projetos e estabelecer leis que
acrescentem penalidades a quem por si só é refém da falta de instrução,
educação ou que simplesmente está sob os moldes de uma sociedade mantida por
padrões já subestimados. Precisamos de mais projetos socioeducativos, e
não me refiro àqueles Kits Gays ridículos promovidos pelo Haddad. Este tipo de
material tenta doutrinar, e não educar as crianças quanto às diferenças
existentes. Ninguém precisa dizer se ser gay é bonito ou feio, é necessário
combater a violência e ensinar o respeito entre as pessoas. Não é uma questão
de adjetivar, é qualificar o que significa ser gay e como isso se insere no
contexto social.
Insisto, educação
pode suplantar a ignorância. E não entendam que educação é suficiente se houver
caso de violência. Porque afinal, não é essa perspectiva positivista e
militarista que estampa nossa bandeira? "Ordem e Progresso"! Então
que seja realmente abrangente a todos.
Outro dia, meu
irmãozinho de apenas 3 anos de idade me viu segurando uma embalagem de cor rosa
de um dado produto estético e logo gritou: "Não mano, larga isso, é de
menina!". Eu parei, fiquei extremamente intrigado com a astúcia do
comentário. Afinal, ele nem sequer sabe escrever o próprio nome, mas já emite
juízo de valor que certamente foi ensinado em casa ou na escola, porque quando
crianças o nosso comportamento é assimilado e imitado em relação ao dos
adultos. E ele ainda foi confirmar com a minha madrasta: "Não é mamãe que
isso é de menina?", ela, toda sem graça desconversou e mandou-o ir brincar
na sala, já que ela sabia que ambos estavam errados.
O que o meu
irmãozinho e todas as crianças precisam saber é que eles decidem quem querem
ser, quando eles estiverem com seus sentimentos amadurecidos e fazendo uso do
poder de escolha. Ou simplesmente quando tiverem consciência de que existem. O
que o meu irmãozinho não precisa ouvir é que gênero é distinguido por cores.
Ensinar isso a ele é como pedir que observe a tampa de uma champanhe estourando
bem próximo a seu rosto. Simples, é burrice, burrice consciente, não há margem
para interpretação, você sabe que não é o certo a fazer. Ainda há muito a
ser feito para diminuir e acabar com o preconceito contra homossexuais. Vamos
começar acabando com as lâmpadas jogadas em seus rostos na Av. Paulista.
Sorte a nossa por
ter nascido numa geração com sociedade puritana e corruptível.
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