sábado, 25 de novembro de 2017

Oh mana, deixa a bicha!

Eu não tava querendo falar sobre o caso do vídeo q o menino de 12 anos tá no aniversário dele, abraçado com o namorado e família e amigos cantando: "é pica, é pica, é rola, é rola..." ♫ mas é o jeito e vamo lá q foi pra isso q eu criei minha conta neste site, pra problematizar a morte da bezerra.

Não tem ninguém indignado com a Larissa Manuela q tá namorando aos 12 anos, beijando na boca e com consentimento dos pais. Pq o do menino gay incomoda tanto e o dela é normal?

As perguntas q todo mundo deveria tá fazendo é: Chamaram a gente pro aniversário? A gente teve q dar presente? Teve q cantar parabéns? Então pq a gente tá discutindo e discordando da vida alheia?

Estou lendo várias pessoas dizendo que não é normal os pais cantarem parabéns dessa forma. Vão me dizer agora que a televisão e o cinema não erotizam adolescentes há décadas? Não existe toda uma indústria da moda que veste adolescentes como garotas de programa (profissão honesta, digna, que tem púbico alvo)? E que dizer do mercado fonográfico que lança adolescentes cantando "roça o peru nela que ela gosta"? E todo mundo canta e engole seco.

Vejo cada vez mais cedo adolescentes entrando na vida sexual, namorando, beijando, transando, engravidando e contraindo doenças sexualmente transmissíveis. Como os pais estão lidando com isso que aqui eu chamarei de problema? Porque o que eu vejo é cada vez mais pais utilizando métodos do passado (castigo, porrada, esculhambação, humilhação) pra tratar de problemas novos de nossa sociedade. Com efeito, cada vez mais os adolescentes vão se afastando de suas famílias e se aprofundando na vida sexual sem consentimentos dos pais, porque ademais, ninguém mais tem controle disso.

O que a minha óptica diz sobre esse vídeo? Eu realmente vejo uma família que com toda as adversidades se mantém unida, fazendo seus esforços para manter seu filho se sentir amado e a salvo de porrada nas ruas do país que mais mata homossexuais, travestis e transgênero no mundo. Eu vejo uma família lutando contra o preconceituo, abrindo as portas do seu lar para o namorado do seu filho, também adolescente e tentando fazer eles se sentirem acolhidos numa festa que celebra mais um dia de sua vida. Dando suporte e tomando o controle da situação. Pondo-os a parte de um mundo cheio de ódio e sofrimento.

E mesmo que a minha visão pareça romântica, eu gostaria de lembrar-lhes que ninguém tem nada a ver com a vida dos outros. Let it go.

Gente, eu não tô aqui pra isso, pra julgar o que é certo, o que é normal. Eu não sou a palmatória do mundo e nem você será. Aliás, o que é normal? Normal é um conjunto de padrões socialmente construídos e aceitáveis. A família desse menino tá fazendo algo ilegal? Vc sabe qual contexto social eles vivem? Será que esse não é o padrão socialmente aceitável no contexto deles? Será que a nossa moral de fora do contexto deles não está tentando criminalizar uma prática comum pra eles? Que direito temos de dizer o que é "normal" para o outro? Vc ia querer que te apregoasse um padrão? Não somos obrigados a concordar com nada, vcs sabem disso. Mas ninguém é obrigado a ouvir nossas opiniões. E quando expomos em público nossa opinião não está blindada, ela é susceptível a erros, pq julgamos a partir do nosso contexto, da nossa construção. Estando "certo" ou "errado" não nos cabe julgar e sentenciar o que sequer está ferindo a lei. So, keep your ladainha to yourself.

Sexualidade é uma parte de nossas vidas que aflora cedo. Todo adolescente de 11 e 12 anos já tem interesse em assuntos sexuais. Isso é um fato, não uma opinião. Agora, não será isso culpa dos próprios pais que ligam a TV no horário nobre e exibem sem nenhum escrúpulo para seus filhos adultos se envolvendo em relações sexuais?

Desde os 7 anos de idade eu já sabia que não era igual aos outros meninos. Aos 12 tinha certeza absoluta que era gay. E veja, eu fui criado numa casa com família cristã, sem ouvir palavrões, sem ver novelas hipersexualizando o comportamento infanto juvenil, minha mãe e minhas tias não eram (e não são) promíscuas, minha avó teve apenas um homem em toda a sua vida, foi casada durante 50 anos até a morte de seu cônjuge.

Quando aos 12 anos resolvi chorando desesperado contar pra minha mãe que achava que era gay, ela gritou, se desesperou igualmente, quis me castigar, passou dias sem falar comigo. Eu achava que ela me entenderia, que podia contar com o seu apoio. Vejam tamanho o despreparo dela para tratar de um assunto tão simples, sexualidade.

Dias depois, pressionado, sentindo-me na obrigação fui a ela dizer que era apenas uma confusão da minha cabeça, que estava triste, mas já tinha passado. Eu menti. Não tinha sido criado para mentir. Mas ela se alegrou, sentiu que seu trabalho estava feito. Tinha me consertado com sua indiferença e desprezo. Nunca mais tocamos no assunto. Eu passei a adolescência fingindo que não namorava com garotas porque não namorava com ninguém. E a vida seguiu tão medíocre que conferimos a ela o status de "normal".

A minha mãe não é uma má pessoa, é só despreparada. Mas tá tudo certo. Paz e amor. Pior foi meu pai que teve que me expulsar de casa para se livrar daquilo que ele mais odiava ver todos os dias, abominava e acha "anormal", um filho gay. Ainda que antes de tudo eu seja seu filho. Não tem problema também. Cada um só dá o que tem. E ao seu dado tempo, cada um colhe o que planta.

A minha sexualidade é culpa da minha mãe? Claro que não. Ain't nobody's fault, people, shake it off! Ninguém escolhe sexualidade. Se fosse elegível eu tinha escolhido ser hétero, ser bem tratado, respeitado e ocupar uma posição de destaque e reconhecimento dentro da sociedade. O contrário, eu assumi o que sou, e pago por isso todos os dias.

Toda essa onda de conservadorismo é a raiz de toda sorte de ignorância e preconceito.

E façam um favor a todos nós, DEIXEM A BICHA EM PAZ!

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